Israel prende ex-procuradora por vazamento de vídeo de tortura contra palestino
Imagens revelam abusos em prisão próxima à Faixa de Gaza e geram repercussão internacional
247 - A ex-procuradora-geral do exército de Israel, Yifat Tomer-Yeroushalmi, foi detida na madrugada desta segunda-feira (3) após a divulgação de um vídeo que expõe cenas de tortura contra um prisioneiro palestino. O caso, ocorrido em 2024 na prisão de segurança máxima Sdé Teiman, reacendeu o debate sobre abusos cometidos por forças israelenses.
De acordo com a RFI, o vídeo havia sido publicado em agosto de 2024 pelo canal Channel 12, e levou à abertura de um inquérito que resultou no indiciamento de cinco reservistas israelenses em fevereiro de 2025. A detenção da ex-procuradora foi anunciada pelo ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, que afirmou ter reforçado a vigilância “para garantir sua segurança” e defendeu que “a investigação seja conduzida de forma profissional para descobrir toda a verdade sobre o caso”.
Tribunal amplia detenção e lista de acusações
O tribunal de Tel Aviv determinou que Tomer-Yeroushalmi permaneça presa até a próxima quarta-feira (5), ao meio-dia. Segundo a emissora pública Kan, ela responderá pelos crimes de fraude, abuso de confiança, obstrução da justiça e divulgação indevida de informações confidenciais.
Em carta de demissão divulgada na sexta-feira (31), a ex-procuradora reconheceu ter sido responsável por liberar o vídeo à mídia. A Channel 12 relatou ainda que a polícia investiga a possibilidade de ela ter tentado destruir seu telefone, que poderia conter dados comprometedores, após deixar uma carta em tom de despedida, sugerindo intenção de suicídio.
Vídeo mostra tortura brutal e ferimentos graves
As imagens divulgadas mostram soldados israelenses submetendo um prisioneiro palestino a atos de extrema violência. Em comunicado, o exército israelense afirmou que os militares “agiram contra o prisioneiro com extrema brutalidade, inclusive perfurando suas nádegas com um objeto pontiagudo, que o atingiu próximo ao reto”.
Segundo o documento militar, o detento sofreu fraturas nas costelas, perfuração pulmonar e lacerações internas, com base em exames médicos e vídeos de câmeras de segurança. As agressões teriam ocorrido em 5 de julho de 2024, durante uma revista em que o prisioneiro estava vendado e algemado.
Indignação internacional e questionamentos éticos
As denúncias provocaram reação internacional e ampliaram a pressão sobre o governo e as Forças de Defesa de Israel (Tsahal). O jornal Yedioth Ahronoth publicou um editorial afirmando que “as revelações sobre os abusos brutais no centro de detenção de Sdé Teiman prejudicaram não apenas a imagem pública de Israel, mas sobretudo a legitimidade do Estado e do seu exército”.
Criado após o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro de 2023, o centro de Sdé Teiman abriga palestinos detidos durante as operações militares no enclave. Um relatório de 2024 do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, assinado por Volker Türk, denunciou prisões secretas e maus-tratos a palestinos, com indícios de tortura.


