Israel intensifica bombardeios em Gaza durante visita de Marco Rubio
Secretário de Estado dos EUA se reúne com Netanyahu enquanto cresce crise humanitária na Faixa de Gaza
247 - As forças israelenses intensificaram os bombardeios contra a Cidade de Gaza, destruindo dezenas de prédios residenciais e obrigando milhares de pessoas a deixarem suas casas, informou a agência Reuters. A ofensiva coincide com a chegada do secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, que desembarcou em Israel para discutir o futuro do conflito e o destino dos reféns ainda em poder do Hamas.
Israel mantém o plano de tomar Gaza, onde se encontram um milhão de palestinos, como parte de sua estratégia declarada de eliminar o movimento de resistência Hamas. Autoridades israelenses classificaram a região como o “último bastião” da organização palestina, alvo de intensos ataques aéreos e terrestres nas últimas semanas.
Visita diplomática e tensões regionais
Antes de viajar, Rubio afirmou que Washington quer debater a libertação dos 48 prisioneiros ainda mantidos pelo Hamas e também estratégias para a reconstrução da Faixa de Gaza. “O que aconteceu, aconteceu. Vamos nos reunir com eles (a liderança israelense). Vamos conversar sobre o que o futuro reserva”, declarou o secretário.
Logo após desembarcar, Rubio visitou o Muro das Lamentações, em Jerusalém, um dos principais locais de oração judaica. O Departamento de Estado norte-americano destacou que o gesto foi uma reafirmação do reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. Essa decisão foi tomada no final de 2017 durante o primeiro mandato de Donald Trump, que transferiu a embaixada americana de Tel Aviv para a cidade.
A visita ocorre em meio a tensões diplomáticas. Na última terça-feira, a liderança política do Hamas em Doha foi alvo de um ataque aéreo israelense, o que gerou forte condenação internacional. O Catar, aliado próximo de Washington, sediará na segunda-feira uma cúpula árabe-islâmica de emergência para debater os próximos passos diante da escalada da violência.
Expansão de assentamentos e risco aos Acordos de Abraão
Enquanto intensifica a ofensiva em Gaza, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, assinou na quinta-feira (11) um acordo para avançar com planos de expansão de assentamentos na Cisjordânia. A decisão gerou críticas dos Emirados Árabes Unidos, que alertaram para o risco de enfraquecimento dos Acordos de Abraão — pacto mediado pelos Estados Unidos que normalizou as relações diplomáticas entre Abu Dhabi e Tel Aviv.
Crise humanitária em Gaza
Organizações de ajuda humanitária alertam que uma tomada israelense da Cidade de Gaza pode ser catastrófica para a população civil, já gravemente afetada pela fome e pela destruição. O Ministério da Saúde do território informou que duas pessoas morreram de desnutrição nas últimas 24 horas, elevando para pelo menos 422 o número de vítimas por falta de alimentos, incluindo 145 crianças.
Philippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA, relatou que a agência foi obrigada a suspender os serviços médicos no campo de refugiados de Beach, o único atendimento de saúde disponível ao norte de Wadi Gaza. Ele também informou que dez prédios da ONU foram atingidos por bombardeios nos últimos quatro dias.
Apesar da abertura gradual para entrada de ajuda humanitária desde julho, a ONU ressalta que os esforços são insuficientes. Israel, que bloqueou totalmente a entrada de alimentos por 11 semanas no início do ano, insiste que os civis devem deixar Gaza antes de intensificar a ofensiva terrestre. No entanto, centenas de milhares ainda permanecem na região, muitos sem condições de se deslocar.
Avanço militar e resistência civil
Segundo autoridades locais, pelo menos 45 palestinos foram mortos apenas no domingo, a maioria em Gaza City. O Hamas afirma que desde 11 de agosto Israel destruiu 1.600 prédios residenciais e 13 mil tendas de deslocados. A campanha israelense contra o grupo já dura quase dois anos e, de acordo com fontes palestinas, mais de 64 mil pessoas foram mortas nesse período.
Ainda assim, muitos moradores resistem a deixar suas casas, na esperança de que a reunião de líderes árabes em Doha consiga pressionar Israel a suspender a ofensiva. “O bombardeio intensificou-se em toda parte e desmontamos as tendas, mais de vinte famílias. Não sabemos para onde ir”, relatou Musbah al-Kafarna, um dos deslocados na Cidade de Gaza.