Israel inicia 'fase decisiva' em Gaza com maciço chamamento de reservistas
Chefe das forças armadas afirma que guerra "não vai parar" até a derrota do Hamas; ofensiva na Cidade de Gaza deve se intensificar em meados de setembro
247 - O governo israelense e suas forças armadas (FDI) declararam estar adentrando o "estágio decisivo" da ofensiva contra os palestinos na Faixa de Gaza. O anúncio foi acompanhado por uma maciça convocação de dezenas de milhares de reservistas para a planejada ofensiva final sobre a Cidade de Gaza, informa o jornal The Times of Israel.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o chefe do Estado-Maior, tenente-general Eyal Zamir, foram enfáticos em discursos separados na terça-feira (2) ao prometerem continuar as operações até atingirem seus objetivos. “Não pararemos a guerra até derrotarmos esse inimigo”, declarou Zamir durante visita a reservistas na base de Nachshonim. “O Hamas não terá onde se esconder de nós. Onde quer que os localizemos, sejam eles figuras de alto escalão ou de baixa patente, atacaremos todos, o tempo todo”, acrescentou.
Zamir também afirmou que a campanha terrestre já está em andamento e se expandindo. “Já iniciamos a manobra em Gaza. Já estamos entrando em lugares onde nunca entramos antes e operando lá com coragem, força, bravura e um espírito extraordinário.”
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em mensagem em vídeo, ecoou a determinação, afirmando que Israel está "caminhando em direção à vitória total". Dirigindo-se aos soldados, ele disse: "O que começou em Gaza deve terminar em Gaza. Agora estamos diante do estágio decisivo. Eu acredito em vocês, confio em vocês, e toda a nação os acolhe."
A ofensiva iminente sobre o principal centro urbano da Faixa de Gaza, prevista para meados de setembro, motivou um intenso apelo às forças de reserva. Relatos indicam, no entanto, que o número de soldados que atenderam à convocação tem sido menor, à medida que o conflito se aproxima de completar dois anos. Paralelamente, as FDI intensificaram os ataques aéreos, alvejando infraestruturas e comandantes do Hamas em bairros como Shejaiya e Zeitoun. Entre os mortos recentemente estão Ahmad Abu Daf, um subcomandante de companhia do Batalhão Zeitoun, e Taleb Sidqi Taleb Abu Atiwi, um comandante da força de elite Nukhba que participou dos ataques de 7 de outubro de 2023. Os militares também confirmaram a morte de um combatente do Hamas que mantinha em cativeiro as prisioneiras israelenses Emily Damari, Romi Gonen e Naama Levy, já libertadas.
Evacuação e custo humanitário
Em preparação para a escalada, as FDI emitiram ordens de evacuação para os civis da Cidade de Gaza, instando-os a se deslocarem para a zona humanitária costeira de al-Mawasi, onde seriam fornecidos serviços "melhorados" de assistência médica, água e alimentos. No entanto, estimativas recentes apontam que apenas cerca de 10.000 dos quase um milhão de residentes e deslocados na área teriam partido para o sul nas últimas três semanas.
O custo humano do conflito continua a subir. O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, relatou que pelo menos 82 pessoas foram mortas em ataques israelenses apenas na terça-feira. Um dos incidentes, não confirmado pelas FDI, teria ocorrido em um ponto de distribuição de água em al-Mawasi, no sul, com relatos da mídia local indicando a morte de 11 pessoas, incluindo sete crianças. A mesma pasta informou que mais treze palestinos, incluindo três crianças, morreram de desnutrição e fome nas últimas 24 horas, elevando o total de óbitos por essas causas para 361 desde o início da guerra.
Cenas de devastação são recorrentes. Do lado de fora do Hospital Shifa, na Cidade de Gaza, sacos plásticos brancos com cadáveres estavam espalhados pela rua.
O Ministério da Saúde de Gaza afirma que mais de 62.000 pessoas foram mortas durante o genocídio
Impasse sobre reféns e custos da guerra
Enquanto a operação militar se avoluma, permanece um impasse sobre um acordo de cessar-fogo e a libertação de prisioneiros. O Hamas afirma ter aceitado uma proposta no mês passado que libertaria 10 dos cerca de 20 reféns israelenses vivos que ainda mantém. Israel não respondeu formalmente ao acordo, embora o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, confidente de Netanyahu, tenha dito a mediadores que a proposta não foi descartada.
Internamente, a ofensiva planejada também traz preocupações financeiras. Um relatório da emissora pública Kan na terça-feira estimou que a operação na Cidade de Gaza poderia custar 25 bilhões de shekels (cerca de US$ 7,4 bilhões), valor que pode exigir cortes orçamentários em outros ministérios do governo. O conflito, que se arrasta há quase dois anos, continua a moldar o panorama geopolítico da região e a gerar profundas consequências humanitárias.