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Impacto das tarifas de Trump leva empresas americanas a reduzir contratações

Indústrias relatam demissões e congelamento de vagas em meio à incerteza econômica provocada pela guerra tarifária dos EUA

Presidente dos EUA, Donald Trump, dá detalhes sobre tarifas no Rose Garden da Casa Branca em Washington, D.C. (Foto: REUTERS/Carlos Barria)

247 - As indústrias dos Estados Unidos mais expostas à turbulência comercial estão reduzindo contratações e, em alguns casos, demitindo trabalhadores. A informação foi divulgada pelo jornal Valor Econômico, que destacou que setores como manufatura, energia e comércio atacadista vivem meses de retração no emprego, consequência direta das tarifas implementadas pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

De acordo com executivos ouvidos pelo Financial Times e reproduzidos pelo Valor Econômico, as tarifas elevaram custos de produção e minaram a previsibilidade necessária para investimentos e expansão. Julie Robbins, presidente-executiva da EarthQuaker Devices, fabricante de pedais de guitarra em Akron, Ohio, descreveu o cenário como um obstáculo ao crescimento. “Essas tarifas são apenas um dreno para fabricantes americanos como a minha empresa. Não há benefício algum. É um imposto repentino que está impedindo nossa capacidade de contratar e crescer”, afirmou.

Mercado de trabalho em retração

O impacto já aparece nos dados oficiais: em agosto, a economia norte-americana gerou apenas 22 mil postos de trabalho. O setor industrial eliminou 12 mil vagas no mês, totalizando 78 mil cortes desde janeiro. Já o setor de mineração, incluindo petróleo e gás, perdeu 6 mil empregos apenas em agosto, enquanto o comércio atacadista acumula baixa de 32 mil postos neste ano.

A deterioração do mercado de trabalho aumenta a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) reduza a taxa de juros ainda em setembro. O presidente da instituição, Jay Powell, já havia sinalizado que a desaceleração do emprego pode neutralizar o efeito inflacionário da política tarifária.

Grandes corporações também sofrem impacto

A John Deere, gigante do setor de maquinário, relatou perdas de US$ 300 milhões em 2025, valor que deve dobrar até o fim do ano. A empresa demitiu 238 funcionários em fábricas em Illinois e Iowa e viu seu lucro líquido encolher 26% no terceiro trimestre em comparação ao mesmo período de 2024.

Outros segmentos também relatam perdas expressivas. A indústria petrolífera, uma das bases de apoio político e financeiro de Trump, enfrenta redução de receitas e aumento de custos com insumos como aço. Desde janeiro, mais de 4 mil trabalhadores deixaram o setor, que agora lida com planos de cortes anunciados pela Chevron (8 mil vagas) e pela ConocoPhillips (3.250 postos).

Incerteza empresarial e visões divergentes

Traci Tapani, presidente-executiva da Wyoming Machine, afirmou que a instabilidade de regras trava decisões de contratação: “A velocidade com que as tarifas estão mudando, e as coisas estão indo e voltando, e essa incerteza está dificultando muito os negócios”.

Apesar do pessimismo, parte do empresariado acredita que as tarifas podem trazer ganhos no médio prazo ao estimular a indústria doméstica. Michelle Feinberg, fundadora da New York Embroidery Studio, anunciou cortes e automação para manter competitividade, mas apoiou as medidas: “Decidimos há muito tempo que não queríamos progredir como país e estamos pagando o preço por isso agora”.

Cenário de alerta para 2026

Economistas alertam que os setores mais atingidos são justamente aqueles que Trump prometeu revitalizar durante sua campanha. Michael Madowitz, do Roosevelt Institute, resumiu a situação: “A indústria não é uma questão de oferta de mão de obra, é uma questão de demanda lenta e de ser vítima de uma rápida mudança de política que ainda não foi resolvida”.

Com dados recentes do Bureau of Labor Statistics apontando quase 1 milhão de empregos a menos do que o previsto no primeiro trimestre de 2025, o mercado de trabalho dos EUA enfrenta um horizonte de incerteza, que já se reflete nas decisões das empresas e pressiona a política econômica do governo.

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