China e Estados Unidos iniciam negociações econômicas e comerciais em Madri
Encontro trata de tarifas, controles de exportação e disputa sobre o TikTok em meio ao aumento das tensões
247 – As delegações da China e dos Estados Unidos iniciaram neste domingo (14), em Madri, uma nova rodada de negociações econômicas e comerciais, segundo informou o Global Times. A reunião, realizada no Palácio de Santa Cruz, dá continuidade a encontros anteriores em Genebra, Londres e Estocolmo e acontece em um momento de fortes tensões entre as duas maiores economias do mundo.
De acordo com o Global Times e a agência estatal Xinhua, a delegação chinesa é chefiada por He Lifeng, vice-primeiro-ministro da China e membro do Bureau Político do Partido Comunista. Na pauta, estão as tarifas unilaterais impostas por Washington, o uso abusivo de controles de exportação e a disputa em torno da plataforma TikTok.
TikTok e ambiente de negócios
A China reafirmou sua posição sobre o caso TikTok, enfatizando que continuará a defender “os direitos e interesses legítimos de suas empresas” e que lidará com a questão “em conformidade com as leis e regulamentos pertinentes”. Pequim também instou os Estados Unidos a garantirem um ambiente de negócios “aberto, justo, equitativo e não discriminatório” para companhias chinesas que operam em território norte-americano.
Em editorial, o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista, criticou a postura de Washington, acusando o governo norte-americano de “politizar e instrumentalizar questões comerciais” e de buscar “benefícios forçados” em detrimento das regras do mercado. O texto reforçou que a China “valoriza a privacidade e a segurança dos dados” e “jamais exigirá que empresas ou indivíduos coletem ou forneçam dados localizados no exterior em violação das leis locais”.
Medidas unilaterais dos EUA
As conversas foram precedidas por novas medidas de pressão de Washington. Na sexta-feira, o Departamento de Comércio dos EUA incluiu 23 empresas chinesas em sua lista de restrições, acusando duas delas de obterem equipamentos de fabricação de chips destinados à SMIC, a maior fabricante de semicondutores da China. Em resposta, o Ministério do Comércio da China anunciou uma investigação antidumping contra chips analógicos dos EUA e uma investigação por discriminação em políticas norte-americanas que atingem o setor de semicondutores.
Além disso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou no sábado que a OTAN deveria suspender a compra de petróleo russo e defendeu a aplicação de tarifas de 50% a 100% sobre produtos chineses, segundo a BBC. O Financial Times informou que Washington também pressiona a União Europeia e o G7 a adotarem medidas semelhantes contra a China e a Índia.
Expectativas e desafios
Apesar das tensões, especialistas ressaltam que a manutenção do diálogo já é um sinal positivo. “O novo ciclo de conversas indica que, apesar das diferenças em questões-chave, o mecanismo de consulta econômica e comercial entre China e Estados Unidos segue operando de forma estável e eficaz”, afirmou Xin Qiang, pesquisador da Universidade Fudan, ao Global Times.
Song Guoyou, também da Universidade Fudan, declarou ao Global Times que as negociações em Madri devem “se concentrar em questões específicas de interesse mútuo e em soluções pragmáticas”, dando continuidade a acordos firmados em encontros anteriores.
Contexto econômico
As tensões comerciais ocorrem em um momento delicado para a economia norte-americana. Segundo a Reuters, o déficit comercial dos EUA se ampliou em julho, impulsionado por recordes de importações. Já a BBC destacou que o país criou 911 mil empregos a menos do que o estimado até março, resultado atribuído a mudanças nas políticas tarifárias e de imigração.
Em editorial, o Diário do Povo advertiu que “buscar sempre vantagens às custas do outro não é uma solução de longo prazo” e defendeu que China e Estados Unidos atuem em prol de “resultados de benefício mútuo” capazes de contribuir para a estabilidade do comércio global.