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EUA lançam maior ofensiva marítima em décadas para conter influência da China em portos globais

Washington vê investimentos chineses em infraestrutura portuária como ameaça estratégica em caso de conflito

Porto no Canal do Panamá (Foto: REUTERS/Enea Lebrun)

247 - O governo dol presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciou a mais ampla iniciativa marítima desde a década de 1970, com o objetivo de reduzir a presença da China em portos estratégicos ao redor do mundo. A informação foi publicada pela agência Reuters nesta teça-feira (16), citando fontes próximas ao plano.

Segundo a reportagem, a Casa Branca considera a rede de portos controlada por empresas chinesas um risco direto à segurança nacional americana, sobretudo em cenários de guerra. A avaliação em Washington é de que os EUA dependem em excesso de navios e terminais estrangeiros para apoio logístico, enquanto a frota comercial americana não teria capacidade de suprir demandas militares em caso de conflito.

Estratégia de Washington

O plano prevê incentivar companhias privadas dos EUA e de países aliados a adquirirem participações atualmente nas mãos de empresas chinesas. Um dos exemplos apontados é o interesse de gigantes financeiros ocidentais na compra de ativos da CK Hutchison, de Hong Kong, que possui terminais em 23 países, incluindo o estratégico Canal do Panamá.

Além da América Central, autoridades americanas também demonstram preocupação com a presença chinesa em portos no Caribe, no Mediterrâneo, na Grécia e na Espanha, além de instalações na Costa Oeste dos EUA.

Stuart Poole-Robb, fundador da consultoria KCS Group, especializada em inteligência e riscos, declarou à Reuters: "O governo dos Estados Unidos vê os investimentos chineses em portos globais como uma enorme ameaça à sua segurança nacional. A preocupação é que Pequim possa explorar o controle sobre esses ativos para espionagem, vantagem militar ou interrupção de cadeias de suprimentos durante crises geopolíticas."

Reação da China

A missão diplomática da China em Washington negou qualquer intenção de uso estratégico dos portos, enfatizando que o país atua dentro das normas internacionais. "A China sempre se opôs firmemente a sanções unilaterais ilegais e injustificáveis e a movimentos que prejudiquem os direitos legítimos de outros países por meio de coerção econômica, hegemonismo e intimidação," afirmou um porta-voz.

O governo chinês também acusou os EUA de alimentar a chamada “teoria da ameaça chinesa” para forçar aliados a alinhar-se a sua política de reorganização das cadeias de suprimento.

Pontos de tensão

Entre os alvos de atenção imediata está o porto grego de Pireu, considerado porta de entrada estratégica no Mediterrâneo. A estatal chinesa COSCO, uma das maiores operadoras de transporte e logística do mundo, detém 67% da administração local. Já na Espanha, a mesma companhia controla terminais em Valência e Bilbao, fato que também preocupa Washington.

No Caribe, o terminal de Kingston, na Jamaica, tornou-se um dos pontos mais sensíveis para os estrategistas americanos. Um relatório do Center for Strategic & International Studies destacou que a presença chinesa ali representa o maior risco de segurança para os EUA em toda a América Latina e Caribe.

Expansão marítima dos EUA

Donald Trump assinou em abril uma ordem executiva para revitalizar a indústria naval americana e ampliar a frota sob bandeira dos EUA. Outras medidas em análise incluem a criação de um novo registro marítimo nas Ilhas Virgens Americanas e a cobrança de tarifas de embarcações construídas ou registradas sob bandeira chinesa que atraquem em portos americanos.

O esforço é comparado ao do ex-presidente Richard Nixon, que nos anos 1970 buscou fortalecer a construção naval doméstica e a presença marítima dos Estados Unidos. Segundo analistas, a meta é recuperar espaço em uma área em que a China já possui larga vantagem: o setor naval chinês é estimado em 230 vezes maior do que a capacidade atual dos estaleiros americanos.

Impactos geopolíticos

A disputa marítima aprofunda as tensões entre as duas maiores economias do mundo. Para Pequim, os portos fazem parte essencial da Iniciativa do Cinturão e Rota, voltada à expansão das conexões comerciais globais. Já para Washington, trata-se de um desafio direto à sua segurança e supremacia militar.

Como destacou Poole-Robb: "No curto e médio prazo, os Estados Unidos devem continuar a construir alianças para contrabalançar o poder econômico e a influência da China em áreas portuárias-chave."

A ofensiva marca uma nova etapa da rivalidade entre Washington e Pequim, agora no campo estratégico da logística marítima, vital para o comércio global e para eventuais cenários de conflito.

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