EUA instalam rastreadores em remessas de chips de IA para flagrar desvios à China, diz Reuters

CINGAPURA/NOVA YORK, 13 de agosto (Reuters) - Autoridades dos EUA colocaram secretamente dispositivos de rastreamento de localização em remessas específicas de chips avançados que consideram estar sob alto risco de desvio ilegal para a China, de acordo com duas pessoas com conhecimento direto da tática policial não relatada anteriormente.

As medidas visam detectar chips de IA sendo desviados para destinos que estão sob restrições de exportação dos EUA e se aplicam apenas a remessas selecionadas sob investigação, disseram as pessoas.

Eles mostram até onde os EUA foram para impor suas restrições à exportação de chips para a China, mesmo com o governo Trump tentando relaxar algumas restrições ao acesso chinês a semicondutores americanos avançados.

Os rastreadores podem ajudar a construir casos contra pessoas e empresas que lucram com a violação dos controles de exportação dos EUA, disseram as pessoas, que não quiseram ser identificadas devido à sensibilidade do assunto.

Rastreadores de localização são uma ferramenta investigativa usada há décadas por agências policiais dos EUA para rastrear produtos sujeitos a restrições de exportação, como peças de aeronaves. Eles têm sido usados para combater o desvio ilegal de semicondutores nos últimos anos, disse uma fonte.

Cinco outras pessoas ativamente envolvidas na cadeia de suprimentos de servidores de IA dizem estar cientes do uso de rastreadores em remessas de servidores de fabricantes como a Dell e Super Micro, que inclui chips da Nvidia e AMD. 

Essas pessoas disseram que os rastreadores normalmente ficam escondidos na embalagem dos servidores enviados. Elas não sabiam quais partes estavam envolvidas na instalação e em que ponto da rota de transporte eles foram inseridos.

A Reuters não conseguiu determinar com que frequência os rastreadores foram usados em investigações relacionadas a chips ou quando as autoridades americanas começaram a usá-los para investigar o contrabando de chips. Os EUA começaram a restringir a venda de chips avançados da Nvidia, AMD e outros fabricantes para a China em 2022.

Em um caso de 2024 descrito por duas pessoas envolvidas na cadeia de suprimentos de servidores, uma remessa de servidores Dell com chips Nvidia incluía grandes rastreadores nas caixas de remessa e dispositivos menores e mais discretos escondidos dentro da embalagem — e até mesmo dentro dos próprios servidores.

Uma terceira pessoa disse ter visto imagens e vídeos de rastreadores sendo removidos por outros revendedores de chips de servidores Dell e Super Micro. A pessoa disse que alguns dos rastreadores maiores eram aproximadamente do tamanho de um smartphone.

O Bureau de Indústria e Segurança do Departamento de Comércio dos EUA, que supervisiona os controles de exportação e a fiscalização, normalmente está envolvido, e as Investigações de Segurança Interna e o Federal Bureau of Investigation também podem participar, disseram as fontes.

O HSI e o FBI se recusaram a comentar. O Departamento de Comércio não respondeu aos pedidos de comentário.

O Ministério das Relações Exteriores da China disse que não tinha conhecimento do assunto.

A Super Micro afirmou em um comunicado que não divulga suas "práticas e políticas de segurança em vigor para proteger nossas operações, parceiros e clientes em todo o mundo". A empresa se recusou a comentar sobre quaisquer ações de rastreamento por parte das autoridades americanas.

A Dell disse que “não tem conhecimento de nenhuma iniciativa do governo dos EUA para colocar rastreadores em suas remessas de produtos”.

A Nvidia disse: "Não instalamos dispositivos secretos de rastreamento em nossos produtos".

A AMD não respondeu a um pedido de comentário.

RESTRIÇÕES DE CHIP

Os Estados Unidos, que dominam a cadeia global de fornecimento de chips de IA, têm buscado limitar as exportações de chips e outras tecnologias para a China nos últimos anos para restringir sua modernização militar. Também restringiram a venda de chips para a Rússia para minar os esforços de guerra contra a Ucrânia.

A Casa Branca e ambas as casas do Congresso propuseram exigir que as empresas de chips dos EUA incluam tecnologia de verificação de localização em seus chips para evitar que sejam desviados para países onde as regulamentações de exportação dos EUA restringem as vendas.

A China criticou duramente as restrições às exportações dos EUA como parte de uma campanha para conter sua ascensão e criticou a proposta de rastreamento de localização. No mês passado, o poderoso regulador do ciberespaço da China convocou a Nvidia para uma reunião para expressar suas preocupações com os riscos de seus chips conterem "backdoors" que permitiriam acesso ou controle remoto, o que a empresa negou veementemente.

Em janeiro, a Reuters relatou que os EUA rastrearam o contrabando organizado de chips de IA para a China por meio de países como Malásia, Cingapura e Emirados Árabes Unidos — mas não está claro se dispositivos de rastreamento estavam envolvidos.

O uso de rastreadores pelas autoridades policiais dos EUA remonta a décadas. Em 1985, a Hughes Aircraft enviou equipamentos sujeitos a controles de exportação dos EUA, de acordo com uma decisão judicial analisada pela Reuters. Executando um mandado de busca, o Serviço de Alfândega dos EUA interceptou a caixa em um aeroporto de Houston e instalou um dispositivo de rastreamento, observou a decisão.

Agentes de fiscalização de exportação dos EUA às vezes instalam rastreadores após obter aprovação administrativa. Outras vezes, eles conseguem que um juiz emita um mandado autorizando o uso do dispositivo, disse uma fonte. Com um mandado, é mais fácil usar as informações como prova em um processo criminal.

Uma empresa pode ser informada sobre o rastreador, caso não seja alvo da investigação, e pode consentir com a instalação dos rastreadores pelo governo, acrescentou a fonte. Mas os dispositivos podem ser instalados sem o seu conhecimento.

Pessoas envolvidas no desvio de remessas de chips e servidores controlados para exportação para a China disseram que estavam cientes dos dispositivos.

Duas fontes da cadeia de suprimentos, que são revendedores chineses de chips controlados para exportação, disseram que regularmente inspecionam remessas desviadas de servidores de chips de IA para os rastreadores devido aos riscos dos dispositivos serem incorporados.

Um depoimento apresentado junto com uma queixa do Departamento de Justiça dos EUA sobre as prisões de dois cidadãos chineses acusados de enviar ilegalmente dezenas de milhões de dólares em chips de IA para a China no início deste mês descreve um cúmplice instruindo outro a verificar rastreadores em servidores Quanta H200, que contêm chips Nvidia.

Ele disse que o texto em inglês foi enviado por um cúmplice, cujo nome foi redigido, a um dos réus, Yang Shiwei.

"Preste atenção para ver se há um rastreador nele, você precisa procurá-lo com cuidado", disse a pessoa, que passou a chamar o governo Trump de obscenidade. "Sabe-se lá o que eles farão."

Reportagem de Fanny Potkin e Jun Yuan Yong em Cingapura, Karen Freifeld em Nova York; Reportagem adicional da redação da China; Edição de Lincoln Feast.