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EUA articulam linha de resgate de US$ 20 bi para apoiar Milei

Pacote financeiro busca estabilizar a economia argentina e fortalecer o presidente antes das eleições legislativas

Trump e Milei se reúnem às margens da Assembleia Geral da ONU (Foto: REUTERS/Al Drago)

247Os Estados Unidos estão em negociações avançadas para oferecer uma linha de swap de US$ 20 bilhões à Argentina, além da possibilidade de compra direta de títulos soberanos do país. A iniciativa tem como objetivo sustentar o presidente Javier Milei, em meio à fuga de capitais e à desvalorização do peso às vésperas das eleições parlamentares de 26 de outubro (Fonte: Bloomberg).

O anúncio foi feito pelo secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, em entrevista à Fox News e em uma postagem no X (antigo Twitter). Ele afirmou que a medida funcionaria como “uma ponte até a eleição”, reforçando o apoio ao governo argentino. Segundo Bessent, “não acho que o mercado tenha perdido a confiança nele [Milei]. Acho que o mercado está olhando pelo retrovisor e vendo décadas — cerca de um século — de péssima gestão argentina”.

Apoio direto e efeitos imediatos no mercado

O pacote prevê não apenas a linha de swap, mas também um crédito emergencial do Fundo de Estabilização Cambial do Tesouro dos EUA. A sinalização de Washington provocou reação imediata: o banco central argentino reduziu sua taxa de recompra de um dia em 10 pontos percentuais, para 25%, enquanto o peso registrou alta de 2%. Os títulos da dívida voltaram a subir, quase apagando as perdas desde a derrota do governo nas eleições provinciais de 7 de setembro.

Federico Filippini, economista-chefe do Adcap Grupo Financeiro, destacou que a decisão elimina “a incerteza sobre as dificuldades de liquidez geradas pelo programa econômico até agora” e aumenta as chances de queda do risco-país, abrindo espaço para novas emissões de dívida já em 2026.

Pressões internas e cenário político

Milei enfrenta forte desgaste após a derrota eleitoral em uma província-chave, o que levantou dúvidas sobre sua capacidade de manter o apoio político necessário para avançar em sua agenda de reformas pró-mercado. Parlamentares têm revertido vetos presidenciais a projetos de gastos, colocando em risco o equilíbrio fiscal que o governo aponta como seu maior êxito até agora.

A economista Gita Gopinath, ex-diretora-gerente adjunta do FMI, avaliou que o suporte norte-americano “ajuda a prevenir movimentos especulativos sobre a moeda”, mas ressaltou a necessidade de o país adotar um “regime de câmbio flexível, acumular reservas e conquistar apoio interno para as reformas”.

Apoio político de Trump e críticas

A operação representa uma guinada na política externa de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, que vinha priorizando cortes em ajuda internacional. No caso argentino, porém, Trump tem se empenhado em sustentar Milei, um aliado ideológico na região. Durante seu primeiro mandato, em 2018, ele já havia pressionado o FMI a aprovar um programa de US$ 50 bilhões para o então presidente Mauricio Macri.

A decisão, contudo, tem gerado críticas. O ex-funcionário do Tesouro norte-americano Brad Setser alertou que “o mundo já aprendeu que é muito mais fácil emprestar dinheiro à Argentina do que reavê-lo”. A senadora democrata Elizabeth Warren acusou Trump de promover “um resgate a um aliado político e seus investidores globais antes de uma eleição”.

Impactos no setor agrícola e geopolítica

Outro ponto de tensão é a promessa de encerrar isenções tributárias concedidas por Milei a exportadores de commodities. Só nesta semana, empresas argentinas registraram US$ 4,2 bilhões em embarques de grãos para aproveitar a vantagem. A Associação Americana da Soja criticou a medida, afirmando que os EUA estariam ajudando um concorrente direto em plena safra.

Além disso, a linha de crédito de Washington, maior que o swap vigente entre Buenos Aires e Pequim (cerca de US$ 18 bilhões), deve gerar desconforto na China, já que os EUA sempre questionaram a dependência argentina do acordo com o banco central chinês.

Desafios à frente

Apesar da inflação ter recuado de 289% no ano passado para 34% atualmente, a economia argentina segue em retração, com queda da atividade industrial, do comércio e da construção. O desemprego permanece elevado e a confiança dos investidores dependerá da condução das políticas de Milei e do resultado das eleições legislativas.

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