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Peso argentino enfrenta sobrevalorização e pressões antes das eleições

Analistas alertam que a moeda argentina está até 20% acima do valor real, colocando em risco o acordo com o FMI e a recuperação econômica

Peso argentino enfrenta sobrevalorização e pressões antes das eleições (Foto: Rodrigo Garrido/Illustration/Reuters)

247 - O peso argentino encontra-se significativamente sobrevalorizado, com estimativas que variam entre 20% e 30% acima de seu valor de equilíbrio. O cenário gera apreensão em investidores e especialistas, que veem a necessidade de uma depreciação mais agressiva para equilibrar a economia e atender às exigências do acordo de US$ 20 bilhões firmado neste ano com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A informação foi publicada pela Bloomberg nesta terça-feira (23).

A valorização da moeda é parte central da estratégia do presidente argentino Javier Milei para reduzir a inflação e estabilizar as contas públicas. De fato, a inflação anual caiu de mais de 200% para 33,6% nos últimos 12 meses. No entanto, o peso forte vem provocando distorções: consumidores preferem realizar compras no exterior, frigoríficos estão importando carne — um dos principais produtos de exportação do país — e a atividade econômica segue enfraquecida pelos cortes orçamentários.

Pressão do FMI e risco político

Juan Manuel Pazos, economista-chefe da corretora local One618, destacou que “o FMI está pedindo um superávit em conta corrente anual de cerca de US$ 10 bilhões, que só seria alcançado com o peso entre 1.650 e 1.700 por dólar”, contra 1.408 registrados na segunda-feira. Já Ramiro Blazquez, analista da StoneX, avaliou que a moeda continua sobrevalorizada em quase 20%. “Eu diria que uma taxa entre 1.500 e 1.600 pesos por dólar é mais lógica para a Argentina”, afirmou.

Apesar das pressões, analistas acreditam que Milei dificilmente permitirá uma nova desvalorização antes das eleições legislativas de outubro, especialmente após a derrota em Buenos Aires há duas semanas, que desencadeou forte queda nos ativos do país. “Depois das eleições, o governo precisará se mover nessa direção — se tiver coragem”, completou Pazos.

Apoio dos Estados Unidos e dilema cambial

A moeda argentina chegou a subir 3,8% nesta terça-feira, impulsionada pela expectativa do encontro entre Milei e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Nova York. O movimento foi fortalecido pela promessa do secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, de oferecer “todas as opções de estabilização” à Argentina. Para o economista Robin Brooks, do Brookings Institution, o apoio é relevante, mas pode acentuar o problema. “A promessa sozinha já impulsiona o peso sem necessidade de intervenção. O problema é que isso torna a sobrevalorização pior, não melhor”, disse.

A reunião entre Milei e Trump deve trazer mais detalhes sobre o possível apoio norte-americano. Entretanto, especialistas alertam que qualquer medida que sustente artificialmente a moeda pode dificultar o ajuste cambial considerado necessário para a recuperação da economia argentina.

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