Entrada na guerra ao lado de Israel representa a aposta mais arriscada de Trump
Bombardeio a instalações nucleares do Irã inaugura uma nova frente militar para os Estados Unidos e amplia risco de retaliação e guerra prolongada
247 – Com uma decisão sem precedentes, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou ataques diretos contra instalações nucleares do Irã, ao lado de Israel, mergulhando seu país em um dos conflitos mais sensíveis do cenário global. A reportagem da Reuters, publicada neste domingo (22), classifica a operação como a maior e mais arriscada aposta de política externa dos dois mandatos de Trump.
O bombardeio, que incluiu o uso de poderosas bombas antibunker contra o complexo subterrâneo de Fordow — uma das áreas nucleares mais protegidas do Irã — marca a entrada formal dos EUA no confronto direto com Teerã. Apesar de ter prometido evitar envolvimento em guerras longas no exterior, Trump se vê agora no epicentro de uma escalada militar imprevisível.
Risco de retaliações e conflito prolongado
Ao anunciar o ataque, Trump afirmou que o Irã deve agora “fazer as pazes ou enfrentar novas ofensivas”. No entanto, especialistas alertam que Teerã pode responder com ações assimétricas, como o fechamento do Estreito de Hormuz — por onde passa cerca de um quinto do petróleo mundial —, ataques a bases americanas e aliados no Oriente Médio, ou ações coordenadas por milícias e grupos aliados. “Os iranianos estão seriamente enfraquecidos em suas capacidades militares”, afirmou Aaron David Miller, ex-negociador dos EUA para o Oriente Médio. “Mas eles têm todas as formas assimétricas de responder... Isso não vai acabar rápido.”
Segundo fontes da Casa Branca, Trump só tomou a decisão após acreditar que o Irã havia abandonado qualquer possibilidade de negociação sobre seu programa nuclear. O presidente autorizou a ação depois de receber garantias de “alta probabilidade de sucesso”, segundo um assessor sênior, após dias de ataques israelenses que abriram caminho para a ofensiva americana.
Diplomacia abalada e risco de mudança de regime
Apesar do aparente revés imposto ao programa nuclear iraniano, o cenário futuro permanece instável. O Irã nega buscar armas atômicas e insiste que seu programa tem fins pacíficos. Para a Arms Control Association, sediada nos EUA, os ataques podem fortalecer a determinação de Teerã em desenvolver armas nucleares. “As ações militares não podem destruir o conhecimento acumulado do Irã. Elas atrasam o programa, mas aumentam a disposição de retomá-lo com mais intensidade”, alertou a entidade.
Eric Lob, professor da Universidade Internacional da Flórida, disse que os próximos passos do Irã são imprevisíveis. Segundo ele, Teerã pode optar por retaliações contra alvos vulneráveis de Israel e dos EUA ou, alternativamente, retornar às negociações, embora em uma posição muito mais fragilizada.
Entretanto, as primeiras reações indicam que o Irã não está disposto a ceder. A Organização de Energia Atômica do país prometeu não permitir a paralisação de sua “indústria nacional”, enquanto a chancelaria iraniana declarou que Teerã “resistirá com todas as forças contra a agressão militar dos Estados Unidos”.
Pressões internas e dilemas geopolíticos
Karim Sadjadpour, pesquisador da Carnegie Endowment for International Peace, avaliou que Trump tenta apresentar a ofensiva como um caminho para a paz. “É improvável que os iranianos vejam dessa forma. Isso parece mais a abertura de um novo capítulo na guerra de 46 anos entre EUA e Irã do que o seu fim”, escreveu na rede X (antigo Twitter).
A ação também reacende discussões sobre uma possível tentativa de “mudança de regime”. Para Laura Blumenfeld, analista do Oriente Médio na Johns Hopkins University, esse risco é real: “Cuidado com a escalada para campanhas de democratização. Muitos fracassos morais dos EUA estão enterrados nas areias do Oriente Médio”.
Internamente, Trump enfrenta resistências: democratas no Congresso já se manifestam contra os ataques, e até mesmo alas isolacionistas do seu próprio partido, o Partido Republicano, questionam o envolvimento militar. A seis meses de seu segundo mandato, Trump vê sua promessa de “paz por meio da força” testada de maneira inédita.
“Trump voltou ao negócio da guerra”, comentou Richard Gowan, diretor da International Crisis Group na ONU. “Duvido que Moscou, Teerã ou Pequim algum dia tenham acreditado que ele fosse um pacificador. Soava mais como um slogan de campanha do que como uma estratégia.”
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