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      Argentina enfrenta escassez de dólares em meio à pressão do FMI e política monetária falha

      Volatilidade cambial se agrava com queda nas exportações, reservas negativas e recuos do Banco Central argentino em plena campanha eleitoral

      Notas de peso argentino e dólar - Ilustração de 17/10/2022 (Foto: REUTERS/Agustin Marcarian)
      Luis Mauro Filho avatar
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      247 - A pressão sobre o câmbio na Argentina voltou a se intensificar nesta semana com o fim do prazo, encerrado ontem (22), para que exportadores agrícolas liquidassem dólares com isenção parcial de impostos, e diante das exigências do Fundo Monetário Internacional (FMI) para que o país reforce suas reservas internacionais. A informação é do jornal Valor Econômico.

      O cenário cambial turbulento ocorre em meio à campanha para as eleições legislativas e regionais, marcadas até outubro, que são consideradas cruciais para o presidente ultraliberal Javier Milei. A expectativa é de que a volatilidade do dólar continue elevada nas próximas semanas, refletindo o aumento da incerteza política e econômica no país.

      Pressão cambial cresce em meio a exigências do FMI

      A necessidade de fortalecimento das reservas cambiais argentinas foi um dos principais compromissos assumidos pelo governo de Milei para garantir um empréstimo-ponte de US$ 20 bilhões junto ao FMI, concedido em abril como parte da renegociação de um acordo maior, de US$ 45 bilhões, firmado em 2022. Nesta terça-feira, representantes do Fundo e autoridades argentinas discutiram a primeira revisão do pacto assinado em abril.

      Em relatório publicado antes da reunião, o FMI destacou que, “embora os fundamentos econômicos tenham melhorado substancialmente desde o final de 2023, as reservas internacionais líquidas permanecem criticamente baixas e os rendimentos dos títulos soberanos, apesar de menores, ainda são elevados”. Segundo a instituição, no fim de março, as reservas líquidas do país estavam negativas em cerca de US$ 6 bilhões.

      Recuo da arrecadação com o agro frustra governo

      O esforço do governo para impulsionar a entrada de divisas com incentivos ao agronegócio teve impacto abaixo do esperado. A política de redução temporária das retenções sobre exportações agrícolas — que terminou em 1º de julho — resultou, entre fevereiro e junho, em uma média de US$ 200 milhões por dia em Declarações Juradas de Vendas ao Exterior (DJVE). Desde o fim do incentivo, esse valor despencou para cerca de US$ 26 milhões diários, segundo levantamento da consultoria LCG.

      Como o setor agrícola é o principal gerador de dólares da economia argentina, o recuo acentuado nas exportações pressionou ainda mais o câmbio.

      Dólar se aproxima do teto da banda

      Desde março, o dólar oficial flutua livremente dentro de uma banda entre 1.000 e 1.400 pesos. Somente em julho, a moeda norte-americana já subiu 85 pesos — uma valorização de 7% em relação a junho — e encerrou o dia de ontem cotada a 1.275 pesos. A expectativa de especialistas é que o câmbio siga se aproximando do teto da faixa.

      “Vínhamos antecipando a tendência de alta do dólar há várias semanas”, afirmou Javier Okseniuk, diretor-executivo da LCG. Segundo ele, o valor pode superar 1.350 pesos em breve. “Isso eventualmente terá seu lado negativo (preços acelerando ligeiramente, talvez menos atividade econômica), mas também seu lado positivo: importações mais caras e um setor exportador com margens maiores, o que pode ajudar a mitigar a deterioração das contas externas (balança comercial externa)”, completou.

      Luis Secco, da consultoria Perspectiv@s, concorda com a previsão de alta: “O dólar pode ir se aproximando do teto da banda conforme nos aproximamos das eleições. Isso, por si só, pode ser visto como algo negativo, porque traz mais incerteza e pode ter algum efeito sobre a inflação — especialmente porque a alta do dólar foi muito rápida”.

      Erro do Banco Central agrava cenário

      O quadro já frágil foi agravado por uma decisão recente do Banco Central argentino, que optou por não renovar as chamadas LEFIs — títulos de curtíssimo prazo usados para retirar pesos de circulação — gerando um excesso de liquidez inesperado no sistema financeiro. Diante da reação do mercado, o governo precisou recuar e retomar os leilões para absorver o excedente.

      Para o analista Juan Pablo Ronderos, sócio da consultoria MAP, a medida foi um erro de timing: “A pressão sobre o dólar não nos surpreende, ela já estava nas nossas previsões. Mas esse erro do governo, que agiu de forma desorganizada e mal planejada, justamente neste momento, está trazendo mais turbulência do que deveria. Nas próximas semanas, acredito que vamos continuar com esse nível de volatilidade, tanto nas taxas quanto em outros aspectos”.

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