Extrema direita se organiza nas redes para responder ao julgamento de Bolsonaro no STF; entenda a estratégia
Apoiadores de Jair Bolsonaro intensificam mobilização online com ataques ao Supremo e aproximação com governo Trump
247 - O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia nesta terça-feira (2) o julgamento que pode levar Jair Bolsonaro (PL) à prisão em regime fechado. Segundo a Folha de S.Paulo, a decisão não se restringe ao campo jurídico e já provoca movimentações intensas no cenário político e digital, especialmente entre apoiadores do ex-chefe do Executivo.
Levantamento da empresa Palver, que monitora em tempo real mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram, mostra a força da mobilização bolsonarista. Entre 25 e 31 de agosto, foram registradas cerca de 700 menções a cada 100 mil mensagens trocadas, com um pico no dia 24, quando criminosos invadiram a casa de familiares de Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro. Aproximadamente 28% desses conteúdos apresentam sinais de encaminhamento em massa, evidenciando que não se trata apenas de manifestações espontâneas, mas de uma estratégia coordenada.
Narrativas que dominam o debate online
O ecossistema digital da direita se estrutura em torno de três principais linhas discursivas. A primeira, presente em 21% das mensagens, ataca diretamente o STF, retratado como um ator parcial e politizado. A segunda, com 19,7% das menções, internacionaliza o conflito, citando os Estados Unidos, o atual presidente Donald Trump e a Lei Magnitsky. Já a terceira narrativa, que aparece em 14,9% das conversas, trata a possível prisão de Bolsonaro como exemplo de “lawfare” e perseguição política.
Termos como “censura” e “ditadura da toga” reforçam a narrativa de vitimização, que se espalha em larga escala e é potencializada por influenciadores digitais. Entre os mais ativos está Eduardo Bolsonaro, responsável por 11,5% das menções no período, atuando em Washington para vincular o futuro do pai à pressão internacional.
Estratégia internacional e elo com Trump
Na frente externa, Eduardo Bolsonaro tem como principal aliado Paulo Figueiredo Filho, que defende a retaliação a autoridades brasileiras e condiciona negociações comerciais à aprovação de pautas de interesse do bolsonarismo no Congresso, como a anistia e a rejeição ao PL 2628.
Outro nome de peso nesse movimento é Jason Miller, estrategista político e conselheiro de Donald Trump. Ele associa diretamente o bolsonarismo ao trumpismo e sugere que a Casa Branca acompanha de perto o julgamento no STF, o que aumenta a expectativa, entre apoiadores, de uma eventual intervenção norte-americana caso Bolsonaro seja condenado.
Ações no campo digital
No espectro mais radical, Allan dos Santos tenta reconstruir sua presença nas redes sociais, mesmo após bloqueios. Sua última conta no Instagram foi a que mais cresceu no campo da direita nos últimos 90 dias, superando nomes como Nikolas Ferreira e o próprio Eduardo Bolsonaro.
Já o jornalista Alexandre Garcia cumpre papel de “tradutor” das mensagens bolsonaristas para o público amplo. Seus vídeos curtos e de fácil compartilhamento se espalham rapidamente por grupos de WhatsApp, ampliando o alcance da narrativa da direita.
Expectativa para as próximas semanas
A decisão do STF está prevista para 12 de setembro, mas até lá a expectativa é de que as redes sociais continuem fervendo. O bolsonarismo deve intensificar ainda mais suas narrativas, especialmente diante de possíveis cortes ou declarações que possam ser interpretadas como apoio a uma das versões em disputa. A hipótese de que o governo dos Estados Unidos adote medidas tarifárias ou faça pronunciamentos oficiais durante o julgamento é vista como um fator que pode elevar ainda mais a mobilização digital.