Fundador da BYD prepara expansão bilionária no Brasil
Wang Chuanfu, criador da BYD e rival de Elon Musk, anuncia plano para ampliar fábrica na Bahia e tornar o Brasil centro estratégico
247 - Em 2011, o então emergente mercado de veículos elétricos ainda era dominado pelo entusiasmo em torno da Tesla e de seu CEO, Elon Musk. Naquele ano, em entrevista à Bloomberg TV, Musk riu ao ser questionado sobre a fabricante chinesa BYD, ironizando: “Você já viu o carro deles? A tecnologia não é muito forte”.
Hoje, 14 anos depois, o cenário se inverteu. A BYD, criada por Wang Chuanfu, ultrapassou a Tesla e se tornou a maior produtora de carros elétricos do planeta. A informação é do portal NeoFeed, que também revela os planos ambiciosos de expansão da montadora no Brasil.
Expansão recorde da fábrica baiana
Wang Chuanfu desembarcará em Camaçari (BA) na quinta-feira (9) para inaugurar oficialmente a nova fábrica da BYD, resultado de um investimento inicial de R$ 3 bilhões. O empresário aproveitará a visita para anunciar um plano que dobrará a capacidade de produção anual: de 300 mil para 600 mil veículos. Com essa ampliação, o investimento total deve ultrapassar R$ 6 bilhões.
A unidade, que já opera em fase de testes desde julho, é a maior fora da Ásia e tem papel estratégico na ambição da empresa de figurar entre as três maiores montadoras do Brasil até 2028. A meta seguinte é ainda mais ousada: liderar o mercado nacional de veículos até 2030.
Brasil se torna prioridade global
A BYD já é a sétima montadora em vendas no país, com 76,3 mil unidades comercializadas entre janeiro e setembro, segundo dados da Fenabrave. Com o novo plano industrial, a empresa busca consolidar o Brasil como seu principal mercado fora da China.
Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da BYD Brasil e responsável pelas áreas comercial e de marketing, destaca o envolvimento direto de Wang nas operações locais. “Ele adora visitar os pontos de venda e entender o hábito do consumidor. É assim que desenvolve produtos alinhados às necessidades de cada país”, disse o executivo.
Da pobreza à liderança mundial
A trajetória de Wang Chuanfu é marcada por superação. Nascido em 1966, em Anhui, uma das províncias mais pobres da China, ele perdeu os pais ainda adolescente. Incentivado pelo irmão mais velho a continuar estudando, formou-se em Química e Física Metalúrgica na Central South University of Technology e concluiu mestrado no Instituto de Pesquisa de Metais Não Ferrosos de Pequim.
Em 1994, com um empréstimo de US$ 300 mil, fundou a BYD ao lado do primo Lu Xiangyang. A empresa começou produzindo baterias recarregáveis e rapidamente tornou-se fornecedora de gigantes como Motorola, Nokia e Samsung. Em 2003, entrou no mercado automotivo, um ano após o surgimento da Tesla, com uma visão clara: unir tecnologia de baterias à fabricação de veículos acessíveis.
Buffett, Munger e a consolidação da BYD
O salto global veio em 2008, quando a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, comprou 10% da empresa por US$ 232 milhões. Na época, o investidor Charles Munger, braço direito de Buffett, elogiou o fundador: "Esse cara é uma combinação de Thomas Edison e Jack Welch. Nunca vi nada parecido”.
Com a expansão internacional e o foco em pesquisa e desenvolvimento, a BYD tornou-se sinônimo de inovação. Em 2025, a empresa registrou receita de US$ 51,7 bilhões e lucro líquido de US$ 2,2 bilhões, mantendo forte crescimento mesmo diante da guerra de preços na China e das pressões regulatórias na Europa.
Rivalidade sem revanchismo
Apesar da ultrapassagem histórica, Wang mantém respeito por Elon Musk, fundador da Tesla. Segundo Baldy, “ele admira Musk e entende que ele fez um grande trabalho com a Tesla. Os chineses não têm esse sentimento de revanchismo. São obstinados e focados em atingir o que desejam”.
Com fortuna estimada em US$ 25,8 bilhões e a BYD avaliada em US$ 134,5 bilhões, Wang Chuanfu reforça que o Brasil é peça-chave em sua estratégia global. A nova fase da montadora no país simboliza não apenas a consolidação de um império automobilístico, mas também o início de uma disputa cada vez mais equilibrada pelo futuro da mobilidade elétrica mundial.