Crédito imobiliário do governo Lula deve impulsionar lançamentos
Medidas do governo devem impulsionar lançamentos imobiliários, especialmente para famílias com renda de até R$ 12 mil
247 - A recente mudança nas regras do crédito imobiliário, com foco na classe média, promete aquecer o mercado de lançamentos, segundo Renato Correia, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). Em entrevista ao O Globo, Correia destacou que, com a injeção de aproximadamente R$ 37 bilhões no mercado já no próximo ano, essa nova política deve acelerar o crescimento do setor. O governo anunciou, na sexta-feira (10), um novo modelo de financiamento para imóveis com recursos da poupança, o que proporcionará mais opções de crédito para quem está na faixa de renda média, em especial aqueles com ganhos de até R$ 12 mil mensais.
Entre as principais mudanças no novo modelo, está o aumento do limite de financiamento dentro do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que passará de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões, valor que não era atualizado desde 2018. Além disso, a taxa de juros dos empréstimos não poderá ultrapassar os 12% ao ano, o que, segundo Correia, tornará o crédito mais acessível, especialmente quando comparado aos valores praticados atualmente no mercado, que giram em torno de 14%. “Se calcularmos os 5% que deixam de entrar no depósito compulsório no Banco Central, são cerca de R$ 37 bilhões que já serão jogados no mercado. A vantagem é a disponibilidade desse financiamento, e cada banco vai definir como usar", afirmou.
Esse novo modelo visa beneficiar principalmente a classe média, que estava limitada pelas opções de financiamento e pelo teto de R$ 1,5 milhão para o valor do imóvel. Correia acredita que a mudança ajudará a impulsionar lançamentos no setor, já que aqueles que ganham mais de R$ 12 mil tinham dificuldades para adquirir imóveis, tanto pela escassez de opções quanto pelos altos juros cobrados. “Quem ganha até R$ 12 mil está contemplado pelo Minha Casa, Minha Vida, em apartamentos até R$ 500 mil. Mas quem ganha acima disso tem dificuldade de comprar, tanto pela falta de recursos quanto pelo juro cobrado, em média de perto de 14%”, completou.
Porém, nem todos estão convencidos de que o modelo será vantajoso para todos os envolvidos. Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção na Fundação Getulio Vargas (FGV), alerta para os desafios que ainda podem surgir. “A Caixa Econômica Federal, maior financiadora do setor, já anunciou que voltará a financiar 80% dos imóveis residenciais. Agora é ver se, na melhor das hipóteses, os demais bancos vão aderir. Eles não parecem satisfeitos com a limitação dos juros em 12% ao ano, num momento de crédito muito caro”, explicou a especialista, destacando a cautela com a possível concentração do crédito em faixas de renda mais alta.
Além disso, Castelo destaca que há estímulos para o financiamento de imóveis com preços abaixo de R$ 1 milhão, para evitar que os recursos sejam direcionados apenas para as classes de renda mais alta. De acordo com estimativas da XP, o novo modelo de crédito imobiliário, somado à ampliação do programa Minha Casa, Minha Vida, pode resultar em um aumento de 0,1 ponto percentual no PIB em 2026, com um crescimento esperado da economia de 1,7% para o próximo ano.
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) também vê a medida como um avanço para facilitar o acesso à casa própria para as famílias de classe média. A entidade destaca a importância de ampliar a relação entre crédito imobiliário e o PIB brasileiro, que atualmente está em 10%, muito abaixo de outros países desenvolvidos, que chegam a cerca de 50%. "É um passo importante para ampliarmos a relação crédito imobiliário/PIB no Brasil", afirmou a entidade.