Global Times vê risco de conflitos com renomeação do Departamento de Defesa para Departamento de Guerra
Editorial chinês afirma que medida de Donald Trump resgata passado expansionista e pode ampliar conflitos no cenário internacional
247 – O jornal Global Times publicou nesta segunda-feira (8) um editorial incisivo sobre a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que assinou em 5 de setembro uma ordem executiva renomeando o Departamento de Defesa para Departamento de Guerra.
Segundo a Casa Branca, o novo nome transmite uma mensagem de “prontidão e determinação”. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, foi ainda mais explícito: “Vamos partir para o ataque, não apenas para a defesa. Máxima letalidade, não legalidade tímida”.
Retorno a uma lógica imperial
De acordo com o Global Times, a retomada da antiga denominação representa muito mais do que uma mudança simbólica: é um resgate da lógica expansionista que marcou os Estados Unidos entre 1789 e 1947, quando o então Departamento de Guerra esteve no centro da conquista de territórios indígenas, da guerra contra o México e da intimidação de potências europeias para consolidar a hegemonia no continente americano.
Para a administração Trump, lembra o editorial, este período simboliza coesão nacional e vitórias militares. O nome “Departamento de Defesa”, adotado no pós-guerra, teria se tornado, segundo a visão da Casa Branca, “sinônimo de fracasso”.
A volta da Doutrina Monroe
O jornal chinês interpreta a decisão como parte da tentativa de reviver a Doutrina Monroe no século XXI, reafirmando a supremacia militar no hemisfério ocidental. Entre as metas citadas pela própria administração norte-americana estão a transformação do Canadá em 51º estado, a retomada do Canal do Panamá e até a ocupação da Groenlândia.
Segundo o editorial, já há sinais de uma escalada: aumento de tropas em torno da Venezuela e rumores de uma intervenção no México, sob a justificativa de combater cartéis de drogas.
A história das guerras sem vitória
O Global Times destaca que, desde a independência em 1776, os Estados Unidos viveram menos de 20 anos de paz. Apenas no período entre 1945 e 2001, de 248 conflitos registrados em 153 regiões, 201 tiveram participação direta de Washington — 81% do total. Entre eles, a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietnã, a ocupação do Afeganistão e a guerra no Iraque.
Para o jornal, a reincidência em “vencer batalhas sem ganhar guerras” não decorre da falta de poder militar, mas da política externa de desrespeito à soberania de outros países e da busca oportunista por transformar crises externas em oportunidades de hegemonia.
Nostalgia perigosa em tempos globais
Embora a denominação “Departamento de Guerra” desperte sentimentos nostálgicos em setores nacionalistas, o editorial adverte que o mundo mudou. A globalização aprofundou a interdependência econômica e política entre países, e a tentativa de impor poder unilateral pode gerar ainda mais instabilidade.
“O que importa não é o nome do Pentágono, mas as ações dos Estados Unidos. Vão continuar a dividir, violar regras e fomentar conflitos, ou vão se engajar no multilateralismo e no respeito à ordem internacional?”, questiona o texto.
Chamado ao multilateralismo
O editorial conclui que, se os Estados Unidos realmente buscam segurança, precisam refletir sobre as consequências de décadas de intervenções militares. No ano em que se celebra o 80º aniversário da vitória na Guerra Antifascista, a expectativa é que Washington assuma responsabilidades para a promoção da paz, em vez de se consolidar como “porta-voz da guerra”.