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      China e Índia reforçam interação como escolha racional em mundo multipolar

      Editorial do Global Times destaca a visita de Narendra Modi à China e aponta que cooperação entre as duas maiores economias da Ásia é positiva

      (Foto: GF)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, participará da Cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) em Tianjin, entre os dias 31 de agosto e 1º de setembro de 2025, em sua primeira visita oficial à China após sete anos. A informação foi publicada em editorial do Global Times, que ressalta o caráter simbólico desse reencontro, marcando uma mudança no relacionamento bilateral, antes marcado por tensões, para uma fase de recuperação gradual.

      O editorial lembra que nos últimos meses sinais de distensão se multiplicaram: soldados das duas nações chegaram a trocar presentes na fronteira do Himalaia, peregrinos indianos retomaram rotas religiosas na Região Autônoma do Xizang (Tibete) e há negociações para a retomada de voos diretos, além de novos acordos comerciais. Esses gestos ganham ainda mais peso por coincidirem com o 75º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países.

      Cooperação estratégica em cenário de tensões globais

      Segundo o Global Times, o reaquecimento das relações está baseado em necessidades estratégicas comuns. Desde o incidente no Vale de Galwan, China e Índia consumiram enormes recursos em disputas fronteiriças. Agora, ambos reconhecem que o foco deve ser redirecionado para o desenvolvimento econômico e reformas internas, em vez de prolongar atritos militares.

      Em agosto, os dois governos chegaram a dez consensos sobre a questão de fronteira e mantêm comunicação constante entre autoridades diplomáticas e militares para evitar choques desnecessários. Essa estabilidade é considerada essencial diante de um contexto mundial marcado pela lentidão da recuperação econômica e por crises geopolíticas no Leste Europeu e no Oriente Médio.

      Em 2024, o comércio bilateral atingiu US$ 138,4 bilhões, um aumento de 1,7% em relação ao ano anterior. A retomada de voos, o afrouxamento de vistos e o retorno das trocas comerciais de fronteira sinalizam que a cooperação econômica entre as duas maiores economias da Ásia está entrando novamente em trajetória de crescimento.

      Autonomia estratégica e relação com os EUA

      O editorial aponta ainda que a reaproximação não se deve a pressões externas, mas à busca de autonomia estratégica por parte de Índia e China. A política externa dos Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, passou de apoio a aliados para uma diplomacia transacional, o que deteriorou os laços com Nova Délhi.

      Na celebração da Independência da Índia, Modi foi enfático: “India will never compromise when it comes to protecting the interests of our farmers”, declarou, assegurando que o país resistirá a qualquer política que ameace seus interesses. Segundo autoridades indianas, o governo busca diversificar relações comerciais com ao menos 40 países, fortalecendo sua independência política e econômica.

      Essa postura converge com a defesa chinesa de uma política externa autônoma e contribui para um movimento de maior integração entre as duas nações em um cenário de mundo multipolar.

      Resistência ao discurso de blocos e alianças militares

      O texto critica a narrativa ocidental que associa a aproximação a uma suposta aliança “anti-EUA”. Para o Global Times, análises desse tipo são resquícios da mentalidade da Guerra Fria, que ainda orienta parte da imprensa e da política norte-americana.

      Um comentário da CNN, citado pelo editorial, reconhece parcialmente a realidade ao afirmar que a recalibração indiana nas relações com a China é um exemplo claro de sua política de autonomia estratégica. Ainda assim, Washington continua pressionando Nova Délhi a escolher lados, seja no fornecimento de petróleo russo ou na participação no Quad (EUA, Japão, Austrália e Índia), estrutura vista por Pequim como parte da estratégia de contenção chinesa.

      Um marco nos 75 anos de relações diplomáticas

      Para o jornal chinês, a visita de Modi abre uma rara oportunidade de avanço. Mais de sete décadas depois de serem fundadores dos Cinco Princípios da Coexistência Pacífica, China e Índia compartilham hoje responsabilidades como motores do crescimento asiático, vozes do Sul Global e membros de blocos como SCO, BRICS e G20.

      O editorial conclui que a aproximação é não apenas um movimento racional, mas também uma responsabilidade conjunta diante de desafios globais. Na visão de Pequim, se as duas potências administrarem a relação como “parceiros e não rivais”, será possível escrever um novo capítulo na cooperação internacional, simbolizado pela imagem do “dragão e o elefante dançando juntos”.

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