Chanceler indiano rejeita vincular laços Índia-China a ações dos EUA
Ministro das Relações Exteriores da Índia afirmou que a aproximação com a China segue trajetória própria
247 – O ministro das Relações Exteriores da Índia, S. Jaishankar, rejeitou neste sábado (23) especulações de que a recente aproximação diplomática entre Nova Délhi e Pequim tenha sido motivada por ações comerciais de Washington, incluindo tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A declaração foi feita durante o The Economic Times World Leaders Forum 2025 e repercutida pela imprensa indiana, como destacou o portal News18.
“Quero que vocês entendam que não é preto no branco. Não é que algo tenha acontecido com a América e, portanto, imediatamente algo tenha acontecido com a China… Existem diferentes cronogramas de diferentes durações para diferentes problemas”, afirmou Jaishankar, citado pelo News18. O chanceler indiano destacou que os laços com a China fazem parte de uma trajetória mais longa e não podem ser reduzidos a respostas pontuais a eventos globais, assim como o Global Times.
Reações internacionais e visão dos EUA
Apesar da posição do governo indiano, parte da imprensa e de políticos norte-americanos interpreta o cenário de forma distinta. A revista Time observou recentemente que “o relacionamento entre Índia e China está descongelando enquanto os laços entre os EUA e a Índia esfriam sob Donald Trump”. Já Nikki Haley, ex-embaixadora dos EUA na ONU, alertou que alienar Nova Délhi em um momento de maior assertividade chinesa seria um “desastre estratégico”.
Em artigo coassinado com Bill Drexel, do Hudson Institute, Haley defendeu que uma “parceria entre EUA e Índia para conter a China deveria ser óbvia”.
Especialistas chineses: relações guiadas por fatores internos
De acordo com o jornal Global Times, especialistas chineses ressaltaram que o fortalecimento da relação bilateral entre China e Índia não está condicionado a terceiros. “Desde o encontro entre os líderes dos dois países em Kazan no ano passado, China e Índia iniciaram um processo de melhora nas relações bilaterais, impulsionado principalmente por fatores internos”, disse Qian Feng, diretor do Instituto Nacional de Estratégia da Universidade Tsinghua.
Lan Jianxue, do Instituto de Estudos Internacionais da China, destacou ainda que, diante das pressões tarifárias impostas pelos EUA, a Índia busca ampliar laços econômicos e comerciais com parceiros como a China, numa tentativa de reduzir vulnerabilidades externas.
Avanços recentes no diálogo bilateral
A visita do chanceler chinês Wang Yi à Índia, concluída na última quarta-feira (20), resultou em consensos sobre questões de fronteira e avanços em áreas como voos diretos e comércio bilateral. Segundo analistas, as reuniões demonstram disposição mútua de melhorar relações e expandir a cooperação, reconhecendo que tensões entre dois gigantes vizinhos não atendem aos interesses fundamentais de nenhum dos lados.
Para Qian Feng, o interesse compartilhado em superar fricções históricas é hoje o maior denominador comum que impulsiona o diálogo. Especialistas, contudo, alertam que a consolidação dessa reaproximação dependerá da capacidade de mantê-la de forma estável e contínua, sem retrocessos.