Ualid Rabah: "Gaza enfrenta a última etapa do genocídio"
Presidente da FEPAL afirma que Israel destrói meios de sobrevivência em Gaza e implementa plano para expulsão forçada da população palestina
247 - Durante entrevista ao Boa Noite 247, o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, afirmou que a Faixa de Gaza vive “a última etapa do genocídio”. Para ele, Israel conduz um plano sistemático de destruição da infraestrutura básica, com o objetivo de provocar fome em massa e forçar o deslocamento definitivo da população palestina.
Segundo Rabah, todos os meios de subsistência foram desmantelados. “A totalidade dos depósitos de comida foi destruída. Todas as plantações foram inutilizadas, os animais mortos, as fábricas de ração destruídas”, relatou. Apenas uma das três usinas de dessalinização de água segue operando, e mesmo assim com apenas 10% da capacidade. “A população de Gaza só tem 3% da capacidade anterior de dessalinização funcionando.”
A entrada de ajuda humanitária foi drasticamente reduzida. De acordo com ele, dos 600 caminhões que costumavam entrar diariamente com suprimentos, o número caiu para no máximo 50 por dia, havendo semanas sem qualquer entrada. A sede da UNRWA, agência das Nações Unidas para refugiados palestinos, foi destruída. “Ela está impedida de entrar com ajuda, assim como a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho.” Ele acusa Israel de realizar ataques intencionais a centros de distribuição de alimentos, mesmo quando operados por entidades alinhadas ao próprio governo israelense ou aos Estados Unidos.
Rabah menciona, nesse contexto, a Fundação de Ajuda Humanitária para Gaza (GHF), criada recentemente, segundo ele, para substituir as organizações internacionais consideradas “terroristas” por Israel. “É uma empresa fundada por ex-agentes do Mossad e mercenários americanos, cuja função é a mesma que os nazistas tinham nos campos de concentração: administrar a comida enquanto esperam a hora de matar.”
Ele defende que a real intenção por trás da destruição é remover a população palestina da região e repovoá-la com israelenses. “Estão preparando a faixa para receber mais de 1 milhão de judeus, com 300 mil habitações. É por isso que toda Gaza está sendo destruída.” O dirigente denuncia que máquinas niveladoras removem entulhos para apagar vestígios de crimes de guerra. “A demolição de hospitais, prédios públicos, mesquitas e igrejas tem como objetivo eliminar registros de nascimento e de propriedade. Estão apagando a história da Faixa de Gaza.”
Em sua análise, os palestinos estão hoje confinados a apenas 15% do território de Gaza, o que representa menos de 3% da área da cidade de São Paulo. A ajuda humanitária, segundo ele, é distribuída somente nesses pontos. “É para administrar a fome e, no momento certo, obrigar essa população a embarcar em navios já aportados em Gaza. O objetivo final é a expulsão.”
O presidente da FEPAL também questionou a legitimidade dos Estados Unidos como mediadores em eventuais negociações de cessar-fogo. “Que fogo há do lado palestino para cessar? O único fogo vem das armas norte-americanas, operadas por israelenses.” Segundo ele, o apoio de Washington se expressa em recursos financeiros e logísticos. “Os Estados Unidos já investiram mais de 30 bilhões de dólares nesse extermínio. A maior base americana no Oriente Médio está no Qatar, de onde sai parte do armamento. Outra parte vem da Turquia, dos Emirados Árabes Unidos e do Bahrein.”
Rabah lembrou que Israel é acusado de genocídio na Corte Internacional de Justiça desde janeiro de 2023, com decisões cautelares já adotadas. “Mesmo assim, o número de exterminados e feridos só aumentou. De lá pra cá, cresceu no mínimo seis vezes.” Segundo ele, relatórios da ONU e de organizações de direitos humanos já definem o regime israelense como apartheid, o que, por sua vez, está juridicamente vinculado ao crime de genocídio. “A resolução que tipifica o crime de apartheid incorpora os mesmos crimes descritos na convenção do genocídio.”
Ainda de acordo com Rabah, o percentual de palestinos mortos em Gaza já supera 3,2% da população. “Seriam 8 milhões de mortos se aplicarmos esse índice ao Brasil. Na Europa da Segunda Guerra Mundial, 30 milhões.” Ele acrescenta que muitas mortes por fome não são contabilizadas, especialmente quando ocorrem em casas ou tendas, onde os corpos não podem ser removidos devido ao risco de ataques durante o trajeto.
Ele critica também a impunidade de soldados com dupla nacionalidade que participam da operação militar israelense. “Há centenas de brasileiros lutando em Gaza. Eles vão voltar ao país e não vão responder por genocídio televisionado?”, questiona. Ele lembra que alguns desses combatentes postam vídeos em redes sociais celebrando a destruição de instituições civis. “Um deles gravou um vídeo em português, dando de presente para a namorada a destruição de uma universidade inteira. Isso está documentado.”
Para Rabah, o cenário atual reflete um projeto geopolítico mais amplo. “O que está acontecendo na Palestina é parte de uma guerra global do Ocidente, liderada pelos Estados Unidos, para destruir qualquer possibilidade de contestação à sua hegemonia.” Ele relaciona o processo de Gaza com a destruição de países como Síria, Líbia, Iraque e Iêmen.
No final da entrevista, o dirigente da FEPAL destacou o papel da entidade na difusão de informações confiáveis. “Nós temos um critério rigoroso de verificação. Não publicamos nada que não seja confirmado. Isso é essencial para preservar a seriedade da causa palestina.” Rabah explicou que a Federação atua especialmente no meio universitário, onde, segundo ele, o discurso sionista dominava a produção acadêmica e os financiamentos de pesquisa. “Hoje, buscamos romper esse monopólio e construir uma opinião pública mais sólida sobre a agenda palestina.” Assista:
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