"O importante é alcançar a soberania digital", diz especialista sobre autonomia tecnológica do Brasil
James Görgen destaca a necessidade de o Brasil criar suas próprias ferramentas digitais para garantir independência e evitar a dependência estrangeira
247 - Em entrevista ao programa Mario Vitor e Regina Zappa, da TV 247, o especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, James Görgen, afirmou que o Brasil precisa se empenhar na criação de suas próprias ferramentas digitais para alcançar a soberania digital. Segundo Görgen, a dependência das grandes empresas de tecnologia (as chamadas Big Techs) coloca o país em uma situação de vulnerabilidade e limita seu desenvolvimento tecnológico.
“O maior dano que essas empresas tecnológicas podem causar ao Brasil é dificultar o desenvolvimento de alternativas nacionais para todas as ferramentas digitais que elas oferecem”, alertou. Ele ressaltou que o país não pode continuar sendo refém dessas corporações. “Não temos que ser reféns eternos das Big Techs”, afirmou.
O especialista enfatizou que a criação de regulamentações mais rígidas é fundamental para reduzir a influência dessas gigantes da tecnologia. “Temos que criar mais regulamentações, em vez de cair nas chantagens dessas empresas, trabalhar mais fortemente para evitar que esse predomínio continue”, afirmou Görgen, sugerindo uma postura mais firme em relação à regulação digital.
O impacto das regulamentações de outros países, como China, Rússia e membros da União Europeia, foi outro ponto abordado por Görgen. Ele destacou que as reações do governo americano e das próprias Big Techs são reflexo das políticas industriais implementadas por esses países, que buscam diminuir a dependência tecnológica externa. “Aqui, por exemplo, aprovamos o ECA digital, para proteção das crianças”, lembrou, destacando as iniciativas brasileiras que podem inspirar mudanças no cenário digital nacional.
Apesar dos desafios, o especialista acredita que o Brasil tem alternativas viáveis. “Temos saída, embora possa não parecer. Temos fornecedores de data center, por exemplo, e serviços de nuvem nacionais. Além disso, podemos criar incentivos, incentivar via BNDES, e abrir linhas de crédito. Somos o décimo maior mercado de software do mundo”, afirmou. Para ele, a criação de políticas públicas eficazes para fomentar a inovação no país é essencial para a construção de um mercado digital independente.
Görgen também comentou sobre as manifestações de grandes empresas de tecnologia contra as iniciativas brasileiras. “As duas associações das grandes empresas de tecnologia se manifestaram contra o Brasil. Mas as empresas em si não se manifestam de forma tão aberta”, disse, destacando que essas empresas, ao regularem as plataformas digitais, criam um ambiente de controle que prejudica a liberdade de ação local.
Ele sugeriu que iniciativas como a do próprio programa, que poderia se tornar uma plataforma digital independente, podem ser uma alternativa. “Canais como o de vocês, por exemplo, podem virar plataformas digitais próprias, com o auxílio do governo ou de empresas que queiram agir nessa área”, propôs.
Embora reconheça que o caminho para a soberania digital seja longo, Görgen deixou uma mensagem de otimismo. “Pode levar algum tempo para ser construído, mas se não começarmos nunca vamos chegar lá”, concluiu, reforçando a urgência de ações concretas para garantir um futuro digital mais autônomo e seguro para o Brasil. Assista: