HOME > Entrevistas

"O destino de todos os povos do mundo é a liberdade", diz Thiago Ávila

Ativista brasileiro descreve à TV 247 os momentos de terror sob custódia de Israel durante a tentativa de romper o cerco à Faixa de Gaza

Thiago Ávila (Foto: Reprodução X)
Redação Brasil 247 avatar
Conteúdo postado por:

247 – Em entrevista à TV 247, o militante e educador popular Thiago Ávila deu um extenso e emocionante relato sobre sua participação na missão humanitária Flotilha da Liberdade, que foi interceptada e sequestrada por forças israelenses em águas internacionais. 

A flotilha navegava há oito dias com destino à Faixa de Gaza, carregando ajuda humanitária — como alimentos, remédios, filtros de água e próteses infantis — em protesto contra o cerco imposto por Israel à região palestina há 18 anos. A bordo estavam 12 ativistas de diversos países, entre eles a sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila.

"A nossa missão era não violenta e buscava criar um corredor humanitário dos povos", afirmou Thiago. "Nós estávamos a 100 milhas náuticas de Gaza quando fomos cercados por embarcações militares e drones israelenses. Eles desligaram as luzes para dificultar nossa visibilidade e começaram a lançar elementos químicos não identificados sobre nós."

Sequestro sob mira de fuzis

Thiago relatou que, durante a interceptação, os ativistas permaneceram sentados de forma pacífica, seguindo treinamento prévio para evitar confrontos. Os soldados israelenses abordaram o barco com armas em punho, e os obrigaram a se separar, sob forte aparato militar.

"Me levaram sozinho para a frente do barco, sob a mira dos fuzis. Naquele momento, todos acharam que eu seria executado. Caminhei pensando na minha filha e na minha família", disse. "Depois, todos os demais foram levados também. Ficamos oito horas na proa, com as mãos nos joelhos, sendo filmados como se estivéssemos sendo bem tratados, mas com fuzis apontados para nós."

Os soldados confiscaram equipamentos e dados. Para evitar que os aparelhos fossem usados contra o movimento, os ativistas jogaram seus celulares ao mar. Segundo Thiago, os militares tentavam produzir uma imagem falsa de cordialidade, enquanto violavam normas do direito internacional.

"Foi um sequestro em águas internacionais. Isso configura crime de guerra e viola a decisão da Corte Internacional de Justiça, que proíbe Israel de deter ajuda humanitária em Gaza", denunciou.

Prisão, chantagem e resistência

Após 20 horas sob custódia no barco, o grupo foi levado ao porto de Ashdod e submetido a mais agressões. Ali, os militares tentaram forçar os ativistas a assinar documentos afirmando que tentavam entrar ilegalmente em Israel — condição para serem deportados. Thiago recusou.

"Fui claro: não tentei entrar em Israel. Fomos sequestrados em alto-mar em uma missão humanitária. Não assinei", afirmou. "Por isso, fui levado para uma prisão chamada Givon e depois para uma solitária em outra unidade prisional, onde sofri ameaças, fui algemado com força para cortar a circulação e submetido a um ambiente de total insalubridade."

Thiago fez greve de fome e de sede em protesto. Disse que só voltaria ao Brasil quando todos os companheiros de missão estivessem livres.

"Usei meu corpo como forma de resistência, como os presos palestinos fazem há décadas. A dignidade é a única arma que temos nessas situações."

Greta Thunberg e o papel da mídia

Greta Thunberg, eurodeputada que também integrava a missão, foi uma das quatro ativistas libertadas primeiro, para levar ao mundo o relato do ocorrido. Segundo Thiago, foi uma decisão coletiva, baseada em sua visibilidade internacional.

"Ela queria ficar, mas entendemos que sua voz precisava denunciar o que aconteceu. E ela o fez com coragem", disse. Ao chegar, a ativista sueca afirmou: “Racismo. É por isso que o mundo fecha os olhos para o genocídio.”

Thiago reforçou a crítica:

"O colonialismo sionista sobrevive do racismo. O fato de nossa missão ter tido visibilidade foi por sermos majoritariamente europeus. Se fôssemos palestinos, estaríamos sendo torturados ou mortos."

Crítica ao governo brasileiro e perspectivas futuras

O ativista elogiou o apoio da representação diplomática do Brasil em Israel durante sua prisão, mas expressou decepção com a ausência de uma posição mais contundente do governo.

"Tudo o que eu queria ao chegar era ver que o Brasil rompeu relações com Israel. Isso não aconteceu. Mas o povo está caminhando nessa direção."

Ele também anunciou que a missão da Flotilha da Liberdade continuará. Uma nova expedição já está sendo organizada para julho.

"A missão não está completa. Enquanto crianças morrerem de fome em Gaza, nós não vamos parar. O destino de todos os povos do mundo é serem livres."

Sobre o Irã e a escalada da guerra

No fim da entrevista, Thiago comentou sobre os ataques recentes de Israel ao Irã:

"Israel tenta escalar o conflito para manter apoio do imperialismo e esconder seu colapso interno. É o país que mais assassinou jornalistas, médicos e crianças proporcionalmente. Já o Irã nunca atacou um vizinho e aceita auditoria nuclear. Quem ameaça a paz mundial é Israel, não o Irã."

A entrevista, transmitida pela TV 247, emocionou milhares de espectadores e se tornou um símbolo da luta contra o cerco a Gaza e do papel da solidariedade internacional. Thiago Ávila finalizou agradecendo à comunidade que acompanhou sua trajetória:

"Quando se está sob a mira de um fuzil, a gente lembra dos espaços seguros. A TV 247 foi um deles. Literalmente devo minha vida a vocês."

Assista:

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Relacionados

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...