Glauber Braga: “Nobel para Corina é incentivo à intervenção na Venezuela”
Deputado critica prêmio à opositora de Maduro e alerta para ameaças dos EUA à soberania latino-americana
247 - A escolha da venezuelana María Corina Machado para receber o Prêmio Nobel da Paz em 2025 provocou forte reação do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ). Em entrevista ao programa Boa Noite 247, da TV 247, o parlamentar classificou a premiação como um gesto simbólico de “ingerência” e “incentivo à guerra na América do Sul”.
As declarações foram dadas na esteira do anúncio oficial do Nobel e repercutiram imediatamente nos meios políticos e nas redes sociais. Segundo Braga, a honraria concedida a uma líder que celebra operações militares dos Estados Unidos nas proximidades da Venezuela desvirtua o espírito do prêmio e contribui para a desestabilização regional. “É uma desmoralização completa do Prêmio Nobel da Paz”, afirmou.
“Trump não está para brincadeira”: críticas à atuação pró-EUA
O deputado ressaltou que María Corina comemorou publicamente a aproximação de embarcações militares norte-americanas da costa venezuelana, atitude que, segundo ele, torna sua escolha para o Nobel ainda mais grave.
“Ela celebrou o fato de os Estados Unidos colocarem três embarcações militares na costa da Venezuela. Isso é um incentivo a um processo de intervenção na América Latina, maior reserva de petróleo do mundo”
Braga também afirmou que a escolha do nome de Corina foi articulada por Marco Rubio, senador republicano e influente figura do governo Trump, o que em sua visão reforça a tese de uma operação política internacional:
“Foi o chefe do Departamento de Estado do Trump quem propôs o nome dela. Isso já basta para que possamos nos insurgir contra esse prêmio”
Riscos ao Brasil e à soberania regional
Durante a entrevista, o parlamentar destacou que a esquerda brasileira, apesar de divergências sobre o governo de Nicolás Maduro, converge no repúdio à intervenção estrangeira na América Latina. Ele alertou que o apoio dos EUA a figuras como María Corina pode servir de precedente para ações contra outros países da região:
“Quem coloca navios militares na costa da Venezuela hoje não terá dificuldade de fazer o mesmo com a Amazônia brasileira amanhã”
Braga fez referência direta ao interesse dos Estados Unidos nas terras raras brasileiras e à possibilidade de futuras sanções ou movimentações militares sob o pretexto de defesa da democracia, prática já sinalizada por porta-vozes do governo norte-americano.
Premiação e o alinhamento com a extrema direita
O deputado denunciou ainda a afinidade ideológica entre María Corina Machado e a extrema direita brasileira, citando o apoio de figuras como Eduardo Bolsonaro e Nicolás Ferreira à premiação:
“Só o fato da família Bolsonaro celebrar o Nobel da Paz para María Corina já diz tudo. Ela sempre se articulou com forças reacionárias e de extrema direita, tal como eles”
Braga comparou a atuação da opositora venezuelana à de políticos brasileiros que pediram sanções contra o próprio país no exterior. Para ele, há uma internacionalização do programa fascista, que conecta lideranças da direita autoritária no mundo.
Reconhecimento do governo Maduro e crítica à política externa brasileira
Instado a comentar a postura do governo Lula diante do cenário venezuelano, Glauber Braga defendeu o reconhecimento oficial das eleições vencidas por Nicolás Maduro. Segundo ele, a diplomacia não deve ser guiada por afinidades ideológicas, mas sim pela autodeterminação dos povos:
“Não vejo motivo para o Brasil não rechaçar a presença de embarcações americanas na costa venezuelana. Isso é um risco geopolítico para toda a América do Sul”
O deputado afirmou ainda que, embora existam diferenças no PSOL e entre os partidos de esquerda quanto ao regime venezuelano, há consenso na rejeição à intervenção externa liderada pelos EUA.
Processo de cassação e mobilização popular
Na parte final da entrevista, Glauber Braga comentou o andamento do processo de cassação movido contra ele na Câmara dos Deputados. Ele agradeceu o apoio recebido e afirmou que a mobilização popular foi decisiva para barrar o avanço da ofensiva liderada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL):
“A solidariedade pública impediu uma cassação sumária. Eles queriam votar rápido no Conselho de Ética, na CCJ, no plenário. Mas a reação foi maior”
Braga também criticou a disparidade de tratamento dado a deputados de direita, como Carla Zambelli e Gilvan da Federal, que permanecem com mandato mesmo após condenações e denúncias graves.
A entrevista evidenciou a disposição do parlamentar de seguir combatendo as ameaças à soberania latino-americana, e consolidou seu papel como uma das principais vozes da oposição à política externa intervencionista dos EUA no continente. Assista:


