Breno Altman: “O plano de paz de Trump para Gaza é colonial”
Jornalista afirma que proposta de Donald Trump transforma Gaza em enclave sob controle internacional e fere a soberania palestina
247 - Durante participação no programa Bom Dia 247, o jornalista e analista político Breno Altman criticou duramente o novo plano de paz apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a Faixa de Gaza, classificando-o como um modelo colonial.
Altman foi convidado a comentar o contexto global marcado pela flotilha que tentava romper o bloqueio a Gaza, os relatos de maus-tratos contra ativistas detidos e a crescente mobilização internacional contra o que muitos denunciam como genocídio palestino. Desde o início da conversa, ele situou a proposta de Trump dentro de uma lógica de controle externo, e não de paz verdadeira.
A força simbólica da flotilha e a mobilização global
Para Altman, a flotilha funciona como um “gatilho de mobilização” em escala mundial, pois reúne ativistas de diferentes países, levando cada sociedade a abraçar a causa também em nível nacional. Ele lembrou as grandes manifestações recentes: “Ontem, dois milhões de pessoas na Itália, quase um milhão em Roma, 400 mil em Madri… a Europa se levantando”.
O analista ressaltou que a narrativa de um plano de paz é enganosa diante da realidade do conflito. “O pano de fundo não é a flotilha. O pano de fundo é o genocídio da Palestina”, afirmou. Para ele, a força simbólica da operação naval ultrapassa o seu impacto imediato, tornando-se um catalisador político de mobilização em diversos países.
Um plano de paz com lógica colonial
Altman fez análise do conteúdo do plano proposto por Donald Trump. Ele o descreveu como uma manobra de caráter colonial, disfarçada de acordo humanitário. O jornalista explicou que a proposta prevê a criação de um comitê executivo, possivelmente liderado por Tony Blair, e de um conselho presidido pelo próprio Trump, o que reduziria drasticamente o poder de decisão dos palestinos sobre o território.
“O plano é um modelo colonial, porque, em vez de entregar a Faixa de Gaza à autodeterminação palestina, ela será internacionalizada”, declarou Altman.
Segundo ele, o projeto impõe algumas limitações formais a Israel — como o veto à anexação imediata da Faixa de Gaza —, mas mantém uma estrutura de dominação sob o pretexto de garantir estabilidade. Essa arquitetura, observa Altman, remete a antigas práticas de colonialismo político disfarçadas de diplomacia.
O jornalista também criticou o papel reservado a Tony Blair, que classificou como “um criminoso de guerra” e “um dos responsáveis pelas mentiras que levaram à guerra do Iraque em 2003”. Para Altman, a presença de Blair simboliza a continuidade de uma política intervencionista sob nova roupagem.
A reação morna do Brasil e a diplomacia cautelosa
Questionado sobre o posicionamento brasileiro diante do sequestro de ativistas da flotilha e do plano de Trump, Altman avaliou a resposta do governo como “morna”. Segundo ele, a nota emitida pelo Itamaraty foi meramente protocolar, sem a contundência necessária diante da gravidade da situação.
“Esse é um assunto presidencial. Cabia um pronunciamento direto, nas redes sociais, do presidente Lula”, afirmou.
Altman ponderou que o silêncio pode estar relacionado a cálculos diplomáticos, diante da tentativa de reaproximação com os Estados Unidos. No entanto, ele criticou o que considera uma hesitação política diante de um cenário que exige firmeza e solidariedade com a causa palestina.
Pressão popular e impactos eleitorais
O analista destacou que a pressão das ruas tem provocado mudanças concretas nas posições dos líderes ocidentais. Citou, por exemplo, a mudança de tom do presidente da França, Emmanuel Macron, e do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, ambos pressionados pela opinião pública de seus países.
Nos Estados Unidos, observou Altman, até setores conservadores próximos ao trumpismo passaram a questionar o apoio incondicional a Israel. “Essa pressão tem resultado porque coloca em risco as perspectivas eleitorais”, explicou.
Ainda assim, ele reforçou que o plano de Trump é deliberadamente ambíguo: “Tudo o que Trump faz é cheio de ambiguidades, porque ele quer garantir liberdade de movimento e não assumir compromissos claros”.
Genocídio simbólico e reconstrução sem soberania
Altman não hesitou em usar termos fortes para descrever a tragédia palestina. Disse considerar “razoável”, do ponto de vista simbólico, o uso da palavra “holocausto” para denunciar o extermínio em curso. Ele também criticou a ideia de reconstruir Gaza como uma espécie de enclave econômico sob supervisão internacional, sem autonomia real.
“O plano Trump fala em um Estado palestino, mas Israel nega esse ponto. O plano abre um caminho gigantesco para que os palestinos sejam pressionados a se retirar de Gaza”, alertou.
Na avaliação do jornalista, trata-se de um projeto de colonialismo moderno, em que o controle formal é concedido apenas para legitimar a dominação efetiva.
A entrevista termina com um apelo à mobilização e à solidariedade internacional. Para Breno Altman, apenas a pressão popular e o engajamento simbólico em defesa da Palestina poderão impor limites ao projeto de Donald Trump e conter a escalada de violência em Gaza. Assista: