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“A flotilha ajudou a conscientizar muitas pessoas", diz Thiago Ávila

Ativista diz que a ação foi parcialmente bem-sucedida, mesmo sem abrir corredor humanitário para Gaza

Thiago Ávila (Foto: Reprodução Youtube)
Redação Brasil 247 avatar
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247 – Em um contundente depoimento à TV 247, o ativista brasileiro Thiago Ávila detalhou os momentos dramáticos que viveu como integrante da Flotilha da Liberdade, interceptada por Israel em águas internacionais quando levava ajuda humanitária à população de Gaza. A missão, embora tenha sido impedida de cumprir seu objetivo principal de abrir um corredor humanitário, teve, segundo Ávila, um êxito simbólico de grandes proporções. “A flotilha ajudou a conscientizar muitas pessoas”, afirmou.

A bordo de um dos barcos da missão, que navegava há oito dias rumo à Faixa de Gaza com medicamentos, próteses, filtros de água e alimentos, Thiago Ávila relatou o que chamou de “crime internacional” cometido pelas forças israelenses. “O que buscávamos era abrir um corredor humanitário dos povos”, explicou. “Fomos vítimas de um crime de guerra, uma violação da Lei dos Mares e da ordem da Corte Internacional de Justiça que proíbe Israel de impedir ajuda humanitária para Gaza.”

A operação de sequestro

De acordo com Ávila, o governo de Benjamin Netanyahu já havia deixado claro, por meio do ministro da Defesa Israel Katz, que a flotilha seria interceptada. A unidade enviada foi a mesma que participou do ataque ao navio Mavi Marmara, em 2010, quando dez ativistas foram mortos. “Acusavam nossa flotilha de levar armas e guerrilheiros, o que é uma mentira absurda. Somos uma ação não violenta”, destacou.

Na madrugada de 12 de junho, a flotilha foi cercada por navios israelenses, drones e helicópteros. “Tive medo de ser executado”, confessou Ávila, ao relatar o momento em que foi separado do grupo e levado à frente da embarcação sob mira de fuzis. Os soldados tentaram filmar a cena como peça de propaganda, oferecendo água e comida aos ativistas, enquanto fora das câmeras o clima era de terror. “Eles apontavam as armas enquanto tentavam construir uma imagem falsa de acolhimento.”

Resistência e prisão

Ao serem levados para o porto de Ashdod, os ativistas foram submetidos a interrogatórios e pressionados a assinar documentos afirmando que entraram ilegalmente em Israel. Todos recusaram. “Nós não tínhamos nenhuma intenção de entrar em Israel. Fomos sequestrados em águas internacionais. Só assinaríamos se Israel reconhecesse o sequestro”, disse Ávila.

Em retaliação, o grupo foi levado a um centro de detenção em condições degradantes, com percevejos, água contaminada e privação de sono. Thiago Ávila, que iniciou uma greve de fome e sede em protesto, foi transferido para uma cela solitária. “Eu não ia aceitar comida nem água de um Estado que mantém mais de 10 mil presos políticos palestinos, incluindo 400 crianças”, afirmou.

Na cela, foi alvo de maus-tratos e agressões físicas. “Era jogado contra a parede, e os guardas diziam: ‘Bem-vindo a Israel’”, relatou. Com dificuldades para respirar, ferimentos causados pelas algemas e ameaças constantes, Ávila afirmou que viveu momentos de pavor e resistência.

Greta Thunberg e a força da solidariedade

A ativista sueca Greta Thunberg também integrou a missão e, segundo Ávila, foi uma das vozes mais firmes. “A Greta é uma das pessoas mais incríveis e corajosas que eu já conheci”, disse. Ela aceitou deixar a prisão antes dos demais por decisão do grupo, que entendeu que sua liberdade permitiria dar visibilidade internacional ao ocorrido.

Depois de quatro dias preso, Ávila foi libertado junto com os demais ativistas. Recusou-se a embarcar para o Brasil até ter certeza de que todos seriam soltos. "Eu só vou para casa quando a última pessoa da nossa missão for embora também", garantiu. No aeroporto, a alegria da liberdade foi abalada por mais um capítulo da escalada bélica israelense: um bombardeio ao Irã forçou o cancelamento do voo dos últimos companheiros de missão. “Foi uma mistura de alegria e tristeza que, sinceramente, eu até agora não superei”, confessou.

Apesar de não ter conseguido abrir o corredor humanitário, Ávila vê a missão como um marco. “Tivemos uma derrota parcial, por não conseguir criar o corredor humanitário. Mas hoje milhões de pessoas sabem da opressão”, afirmou. Segundo ele, a exposição da violência israelense contra civis desarmados e contra ações de solidariedade impactou a opinião pública global. “O destino de todos os povos do mundo é a liberdade.”

Ao final da entrevista, Ávila reafirmou sua militância e anunciou novas ações: “Eu ainda espero que o Brasil rompa relações com Israel. E teremos novas missões da flotilha. Eu vou seguir fazendo exatamente o que sempre fiz: lutar contra a exploração, a destruição da natureza e todas as formas de opressão.” A próxima missão está prevista para julho e deve ser ainda maior. Assista:

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