Tarifa contra o Brasil expõe ilegalidade das ameaças de Trump, alerta Paul Krugman
Nobel de Economia afirma que medidas comerciais do presidente dos EUA contra o Brasil violam a lei e revelam limites do poder americano
247 – O economista americano Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia em 2008, voltou a criticar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por sua política de tarifas comerciais aplicadas de forma arbitrária. Em artigo publicado na plataforma Substack, sob o título “Delírios de grandeza vão para o Sul” e reproduzido pelo Valor Econômico, Krugman aponta que o Brasil se tornou o exemplo mais flagrante de ilegalidade no uso de tarifas como instrumento de pressão política.
Segundo o Nobel, Trump decidiu impor uma sobretaxa de 50% a parte dos produtos exportados pelo Brasil para os EUA, deixando cerca de metade das exportações brasileiras de fora da medida. O presidente americano citou, como justificativa, o processo que o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 — o que, para Krugman, comprova que a medida não tem base econômica. “Quase tudo o que Trump vem fazendo em relação ao comércio é ilegal, mas no caso do Brasil é completamente flagrante. Creio que nem o advogado mais inteligente e inescrupuloso consiga encontrar algo na lei americana que dê a um presidente o direito de impor tarifas a uma nação não por razões econômicas, mas porque não gosta do que seu judiciário está fazendo”, escreveu.
O economista ressalta que Trump busca projetar uma imagem de domínio global, mas não possui força real para tanto. Ao usar a expressão em inglês “he doesn’t have the juice”, que em tradução literal significa “ele não tem o suco”, Krugman ironizou a dependência americana do suco de laranja brasileiro — produto que, curiosamente, foi poupado da tarifa de 50%. “O confronto com o Brasil ilustra de forma especialmente gritante a ilegalidade da onda tarifária de Trump. No entanto, também ilustra a lacuna entre o poder que Trump aparentemente acredita ter e a realidade”, disse Krugman.
O artigo também desmonta a percepção de que os Estados Unidos seriam o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Citando dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o economista explica que 28% das exportações brasileiras têm como destino a China, 13,2% vão para a União Europeia e apenas 12,1% seguem para os EUA. “Será que Trump e seus assessores realmente acham que podem usar tarifas para intimidar uma nação de mais de 200 milhões de habitantes a abandonar seus esforços para defender a democracia, sendo que vende 88% de suas exportações para outros países além dos Estados Unidos?”, questiona.
Krugman ainda ironiza o fato de o suco de laranja ter sido poupado enquanto o café brasileiro foi atingido. Para ele, a decisão deixa claro que são os consumidores americanos que acabam pagando pelas tarifas, e não os exportadores estrangeiros, como Trump costuma alegar. “Aparentemente, precisamos do que o Brasil nos vende”, observou, destacando a contradição do governo americano.
Na conclusão de seu artigo, Krugman argumenta que as ameaças comerciais de Trump estão produzindo efeitos políticos contrários aos desejados. Ele cita que, assim como aconteceu em eleições no Canadá, a pressão sobre o Brasil fortaleceu a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Trump pode achar que pode dominar o mundo, mas não tem o suco, seja de laranja ou de qualquer outra fruta. Na verdade, ele está, sem querer, dando ao mundo uma lição sobre os limites do poder dos EUA”, conclui.
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