Reforma da renda pode ser a 'grande reforma' de Hugo Motta, diz Haddad
Ministro da Fazenda tenta fazer com o que o presidente da Câmara se engaje pessoalmente no projeto que reduz o IR para os mais pobres
247 - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), fez um apelo direto ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que ele se engaje na aprovação do projeto de lei que isenta do Imposto de Renda pessoas que recebem até R$ 5 mil. “A maior reforma que ele pode chamar de ‘minha’, no caso dele, é a reforma da renda”, disse o ministro em entrevista ao Estadão/Broadcast, sugerindo que Motta adote a proposta como seu legado parlamentar.
A fala vem em meio à movimentação do deputado para defender uma reforma administrativa, cujo texto já foi encomendado ao Legislativo. Haddad, no entanto, minimiza essa prioridade. “Ele pode abraçar dez reformas. Mas você me falou de ‘uma para chamar de sua’. Essa é a reforma da renda”, insistiu.
Segundo Haddad, a proposta do IR representa o principal desafio de Hugo Motta à frente da Câmara, a exemplo de seus antecessores. Rodrigo Maia, lembrou o ministro, liderou as reformas trabalhista e da Previdência. Já Arthur Lira protagonizou a aprovação da reforma tributária. Agora, defende ele, caberia a Motta assumir a "reforma da renda" como marca de seu mandato.
Para o titular da Fazenda, o projeto — que amplia a faixa de isenção e reduz desigualdades — tem um caráter histórico. “Você poder estar na solenidade de sanção de um projeto desse, do lado do presidente da República, do lado do presidente do Senado, é histórico. O maior problema do Brasil é a desigualdade.”
Haddad refutou as críticas de que o governo adota uma retórica de antagonismo entre “ricos e pobres”. A seu ver, a proposta representa um ajuste necessário. “A mensagem do governo é a seguinte: nós temos que fazer um ajuste, nós temos que fazer justiça tributária. Tem 1% da população que está lá no andar de cima, não está contribuindo com a sua justa parte”, afirmou.
Questionado sobre a percepção negativa do público, medida em pesquisa da Quaest, Haddad rebateu. “As pessoas que estão querendo dizer que isso é rico contra pobre, na verdade, não querem que as coisas mudem.”
Entre as iniciativas apontadas como fundamentais para a justiça fiscal, Haddad destacou a Medida Provisória 1303, que corrige brechas deixadas pelo governo anterior. Segundo ele, durante a gestão Bolsonaro, empresas de apostas — as chamadas bets — deixaram de recolher cerca de R$ 40 bilhões em tributos.
Ele também defendeu o fim da isenção de investimentos como LCIs e LCAs, ao afirmar que os benefícios não chegam aos produtores. “Sabe quem me diz isso? Quem detém o título. Fica no meio do caminho”, relatou. Segundo o ministro, o foco do governo é buscar incentivos eficazes que atinjam de fato a ponta da cadeia produtiva.
Ainda durante a entrevista, Haddad reiterou que não pretende disputar cargos nas eleições de 2026, embora não descarte deixar o Ministério da Fazenda em abril, prazo de desincompatibilização. “Pode ser que eu saia, pode ser que não. O que eu repito sempre é que eu não tenho pretensões eleitorais. Mas de participar do projeto, eu tenho.”
Segundo ele, o compromisso com um projeto político é o que o move. “Não é o tempo, não é o cargo, não é o salário. Pode ser que eu toque um projeto de seis meses, mas que me apaixone.”
O ministro também voltou a valorizar a entrega da reforma tributária sob sua gestão. “Quarenta anos tentando a reforma tributária, o ministro que entregou fui eu. Com apoio de muitas mãos, de muitas cabeças, mas eu entreguei”, enfatizou.
Ele destacou que o sistema que está sendo desenvolvido pela Receita Federal é 140 vezes maior que o Pix e vai centralizar a emissão de notas fiscais e o pagamento de tributos em todo o país, com custo estimado em R$ 1 bilhão.
Questionado sobre a eleição de 2026, Haddad demonstrou confiança na força política do presidente Lula. “Penso que o presidente Lula vai chegar competitivo, com as bandeiras históricas que ele sempre defendeu, numa condição de disputar ideias”, disse.
Ele criticou o ambiente das últimas eleições, marcadas por desinformação e discursos vazios. “O que eu puder fazer para ajudar o presidente a chegar bem [...] farei.” Haddad também abordou o cenário institucional e a relação entre os poderes. Elogiou decisões recentes do STF, sobretudo a que obriga o Congresso a seguir a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Para ele, o Judiciário precisa estar blindado contra pressões da extrema direita. “O Supremo tem que subsistir, tem que sobreviver a isso. [...] Os Poderes da República não podem estar vulneráveis ao resultado das urnas.”
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