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Preço do café nos EUA dispara após tarifas de Trump ao Brasil

Consumidores nos EUA enfrentam maior alta do século

Café (Foto: Mohammad Khursheed / Reuters)

247 - Os preços do café no varejo dos Estados Unidos atingiram o maior salto anual deste século, segundo levantamento do Financial Times com base em dados do Bureau of Labor Statistics (BLS). A escalada é impulsionada por uma combinação de fatores: a queda da produção global, problemas climáticos em grandes produtores e, mais recentemente, tarifas impostas às importações brasileiras.

O café moído chegou a US$ 8,87 por libra nos supermercados em agosto, um recorde histórico. O índice de preços ao consumidor para o produto registrou alta de 21% em comparação ao mesmo mês do ano passado, o maior avanço desde 1997. O movimento reflete o encarecimento do grão nos mercados internacionais, após safras ruins em países-chave.

Impacto das tarifas e queda nas importações

A pressão sobre o mercado norte-americano se intensificou depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou em julho uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro. O Brasil, maior produtor mundial de café arábica, tradicionalmente responde por cerca de um terço do consumo do país.

Dados da consultoria de logística Vizion apontam que os embarques brasileiros para os EUA caíram pela metade em 2025 e, apenas em agosto, o recuo superou 75% em relação ao mesmo mês de 2024. As importações de outros fornecedores, como Vietnã e Colômbia, não foram suficientes para compensar a lacuna deixada pelo Brasil.

Estoques limitados e preocupação futura

Especialistas alertam que o estoque acumulado ainda sustenta o consumo, mas essa margem pode se esgotar em breve. “Em algum momento, se os americanos continuarem bebendo café no ritmo atual, esses estoques também terão limites”, afirmou Thijs Geijer, economista sênior de alimentos e agricultura do ING. Ele questiona: “Vai ter que haver novos embarques, mas a questão é: de onde virão?”.

Além das tarifas, as mudanças climáticas também pressionam o setor, com safras instáveis em países centrais para a cadeia global. Enquanto o Brasil domina a produção de arábica, o Vietnã é líder no fornecimento de robusta, usado em cafés solúveis. A combinação de perdas nesses dois polos reforçou a alta nos preços futuros da commodity.

Possíveis exceções tarifárias e repasse ao consumidor

Diante da pressão inflacionária, a Casa Branca apresentou na semana passada uma lista de produtos — incluindo o café — que podem ter alíquotas reduzidas em futuros acordos comerciais. Para Geijer, os consumidores ainda não sentiram plenamente o impacto das tarifas, já que o tempo médio de transporte do café brasileiro até os EUA é de cerca de 20 dias, seguido do processo de torrefação. O repasse aos supermercados, portanto, deve se intensificar entre outubro e novembro.

Segundo a Associação Nacional do Café, dois terços dos adultos norte-americanos consomem café diariamente. A rede Kroger, maior supermercadista do país, vem tentando conter parte da alta. “Ocasionalmente, as tarifas terão impacto em alguns de nossos preços”, admitiu Ron Sargent, diretor-executivo interino, durante teleconferência de resultados.

Café e inflação alimentar nos EUA

O avanço do café é parte de um cenário mais amplo de encarecimento dos alimentos. O BLS informou que os preços ao consumidor subiram 2,9% em agosto, a maior variação anual desde janeiro. Apenas os alimentos consumidos em casa tiveram alta de 0,6% em relação a julho, revertendo a queda do mês anterior.

A combinação de tarifas, estoques pressionados e mudanças climáticas indica que os consumidores norte-americanos poderão enfrentar um cenário prolongado de café mais caro nos próximos meses.

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