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      Petróleo do Amazonas deixa de ser refinado em Manaus e segue para São Paulo

      Privatização da refinaria transformou unidade em terminal logístico. Consumidores do Norte pagam os preços mais altos do país

      Refinaria da Amazônia (Ream), antiga Isaac Sabbá (Reman) (Foto: Divulgação)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - A Refinaria de Manaus (Ream), antiga Refinaria Isaac Sabbá (Reman), privatizada em dezembro de 2022 e atualmente sob o controle do Grupo Atem, deixou de operar como refinaria de petróleo. A denúncia foi feita pelo Sindicato dos Petroleiros do Amazonas (Sindipetro-AM) ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segundo a entidade, todo o petróleo extraído em Urucu (AM) está sendo transportado até São Sebastião (SP) para ser processado pela Petrobras, em uma viagem que leva de 14 a 16 dias.

      O Ministério de Minas e Energia (MME) também se manifestou e enviou ofícios ao Cade pedindo providências diante de práticas consideradas anticoncorrenciais no setor de combustíveis. De acordo com o ministério, os preços cobrados pela Ream estão acima da média nacional e superiores ao Preço de Paridade de Importação (PPI), penalizando especialmente os consumidores da Região Norte, que hoje pagam os valores mais altos do Brasil por gasolina, diesel e gás de cozinha.

      Produção em queda e paralisação total

      A trajetória de queda da produção de combustíveis na Ream é reveladora. Entre 2020 e 2022, a refinaria mantinha média de 40 mil barris por dia. No ano seguinte, já sob gestão privada, o volume caiu para menos de 30 mil barris/dia. Em 2024, a produção despencou para menos de 10 mil barris/dia, até ser completamente interrompida em fevereiro de 2025, quando não houve mais qualquer pedido da unidade para receber petróleo de Urucu.

      “O resultado é que a única refinaria da Região Norte não refina mais nenhum litro de petróleo, enquanto os combustíveis no Amazonas permanecem entre os mais caros do Brasil, chegando a custar até 10% acima da média nacional”, afirmou o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.

      Denúncias e fiscalização

      O Sindipetro-AM acusa a Ream de descumprir os compromissos assumidos no processo de privatização ao descaracterizar a função de refinaria. A denúncia, apresentada em 18 de junho, pede a apuração de irregularidades graves na operação.

      Diante do cenário, o MME reforçou ao Cade a necessidade de investigar os efeitos da paralisação sobre a concorrência e sobre os preços praticados na região. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) também foi acionada. Após reuniões com representantes dos petroleiros, a ANP realizou fiscalizações nos dias 24 e 26 de junho, resultando na emissão de dois autos de infração e na abertura de uma auditoria cujo relatório ainda não foi divulgado.

      Impacto no consumidor e incertezas futuras

      A ausência de refino no Amazonas traz efeitos diretos para a população e para a própria Petrobras. A estatal precisa arcar com custos logísticos mais altos para transportar o petróleo até São Paulo, enquanto os consumidores da Região Norte seguem pagando até 10% a mais em relação à média nacional por gasolina e gás de cozinha.

      Até o momento, o Cade mantém as investigações sob sigilo e não se manifestou oficialmente sobre os pedidos do governo. O MME também aguarda resposta sobre os ofícios enviados. A ANP, por sua vez, deve adotar novas medidas após a conclusão do relatório de auditoria. 

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