Estatais federais ampliam investimento em 2024 e injetam R$ 96 bilhões na economia
Relatório da Sest indica faturamento recorde de R$ 1,3 trilhão, ativos de R$ 6,7 trilhões e participação de 5,4% do PIB
247 - O governo federal divulgou nesta sexta-feira (22/8) o Relatório Agregado das Empresas Estatais Federais 2025 – ano-base 2024, documento que reúne os resultados das 44 companhias controladas diretamente pela União. A publicação, elaborada pela Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest), foi apresentada pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) e serve de base para avaliar o desempenho econômico e social do setor.
O levantamento mostra que as estatais federais mantiveram a trajetória de crescimento em 2024, com faturamento recorde de R$ 1,3 trilhão (alta de 4,9% ante 2023) e ativos de R$ 6,7 trilhões (expansão de 10,9%). O conjunto das empresas respondeu por 5,4% do PIB e investiu R$ 96 bilhões no período — avanço de 44,1% sobre 2023 e de 87,2% em relação a 2022
No resultado final, o lucro líquido somou R$ 116,6 bilhões, queda de 41% na comparação anual, influenciada sobretudo pela retração dos ganhos da Petrobras. Desconsiderando a petroleira, o lucro agregado subiu 9,4%, alcançando R$ 79,6 bilhões, o que, na avaliação do governo, indica solidez financeira e operacional. As empresas também distribuíram R$ 152 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio, sendo R$ 72,1 bilhões ao Tesouro Nacional e R$ 80,4 bilhões aos demais acionistas.
Para Elisa Leonel, secretária de Coordenação e Governança das Estatais, o relatório fortalece a integração de métricas e boas práticas entre as companhias. “A gente sabe que as estatais entregam riquezas importantes para o país e contribuem para a execução de importantes políticas públicas. Nosso empenho é melhorar cada vez mais a forma de monitorar resultados e indicadores, aprofundando um olhar baseado em evidências”, afirmou.
A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, destacou a centralidade dessas empresas nas políticas de desenvolvimento. Para ela, “as empresas estatais possuem papel estratégico no desenvolvimento socioeconômico do país, na promoção da igualdade, na universalização de bens e serviços e na construção e fortalecimento da soberania nacional.” Ainda segundo Dweck, elas “são peças centrais no crédito habitacional, agrícola, às pequenas e médias empresas e aos microempreendedores, no desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias, na integração regional e na garantia de diferentes políticas públicas em todos os 5.570 municípios brasileiros”.
Investimento e crédito com marcas históricas
O relatório ressalta o papel econômico, social, ambiental e estratégico das estatais. Entre 2023 e 2024, foram R$ 106 bilhões aplicados em ações do Novo PAC. Em 2024, os bancos públicos ampliaram para R$ 500 bilhões o volume de crédito disponível no âmbito do Nova Indústria Brasil, com foco na reindustrialização verde, digital e inclusiva. A agenda de transformação ecológica mobiliza iniciativas de descarbonização, recuperação de áreas degradadas e mapeamento de ativos naturais lideradas por Petrobras, Embrapa, SGB, EPE e PPSA.
No sistema financeiro público, o BNDES promoveu a maior injeção de crédito de sua história, com R$ 276,5 bilhões, atingindo a maior carteira desde 2017 (R$ 584,8 bilhões) e a menor inadimplência do sistema (0,001%). O Banco do Brasil encerrou o ano com a maior carteira de crédito agropecuário de sua série histórica, em R$ 397 bilhões. A Caixa respondeu por 67,2% do crédito imobiliário e direcionou R$ 105 bilhões ao Minha Casa, Minha Vida.
Desempenho por empresas e setores
Apesar da redução do lucro, a Petrobras e o setor de portos registraram recordes de produtividade. Entre as estatais não financeiras, o Serpro alcançou o maior lucro líquido de sua trajetória (R$ 685,2 milhões). A Conab obteve o segundo melhor resultado em cinco anos (R$ 14,1 milhões), enquanto Embrapa e Codeba bateram recordes de faturamento — R$ 58,5 milhões e R$ 285,9 milhões, respectivamente. Dataprev, Imbel, Petrobras e a Autoridade Portuária de Santos (APS) registraram as maiores receitas desde 2020.
No segmento portuário, Companhia Docas do Rio de Janeiro, Codeba e APS atingiram novos picos de movimentação em toneladas. Na área social, os três grupos hospitalares federais — Ebserh, Grupo Hospitalar Conceição e HCPA — somaram mais de 9,4 milhões de atendimentos, 474 mil internações e 416 mil cirurgias ao longo de 2024. Na indústria de hemoderivados, a Hemobrás inaugurou a primeira fábrica nacional de Fator VIII recombinante.
A atuação das empresas também se estendeu ao apoio a emergências climáticas. Correios, Telebras, Conab e outras estatais doaram alimentos e garantiram logística de socorro a equipes e comunidades afetadas por eventos extremos no Rio Grande do Sul e na Amazônia.
Metodologia e leitura dos resultados
O documento detalha que déficits primários em determinadas estatais podem reflectir ciclos de investimento e não necessariamente prejuízo. Avaliação periódica do Banco Central sobre 20 estatais não dependentes (excluídas Petrobras e instituições financeiras) indica que, em 2024, 11 registraram resultado primário negativo, mas apenas duas — Correios e Infraero — tiveram prejuízo, empresas cuja missão inclui atuar em regiões e serviços menos rentáveis. Nas demais, o déficit apareceu combinado com lucro contábil, em geral associado ao uso de recursos acumulados ou à execução de projetos de longo prazo.
Sob a ótica do Estado investidor, o relatório aponta que para cada R$ 1 do orçamento federal destinado às estatais — com foco em saúde e pesquisa — R$ 2,51 retornaram aos cofres públicos em dividendos e JCP, evidenciando robustez financeira e contribuição relevante para a economia.
Transparência e dados abertos
Alinhado às melhores práticas internacionais, o MGI reforça que os dados consolidados podem ser consultados no Panorama das Estatais, painel interativo da Sest construído a partir do Siest. A base oferece informações estruturadas em conformidade com a Política de Dados Abertos do Executivo Federal e o Plano de Dados Abertos do MGI, possibilitando controle social e estimulando pesquisas acadêmicas.