Inflação recua e abre espaço para corte de juros
Queda nos preços da conta de luz e dos alimentos faz IPCA registrar menor alta para outubro desde 1998
247 - A inflação registrou forte desaceleração em outubro, surpreendendo o mercado financeiro, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para as metas do Banco Central, avançou apenas 0,09% no mês — a menor variação para outubro desde 1998 e abaixo das estimativas de analistas ouvidos pela Bloomberg, que esperavam 0,15%.
De acordo com o jornal O Globo, a inflação acumulada em 12 meses ficou em 4,68%, o menor nível desde janeiro. O resultado aumenta a probabilidade de o índice encerrar 2025 dentro do teto da meta oficial de 4,5% e reforça as apostas de que o Banco Central poderá iniciar um ciclo de cortes na taxa Selic, hoje em 15% ao ano.
Supermercado mais barato e dólar em queda
O principal alívio veio dos alimentos consumidos em casa, que caíram 0,16% em outubro, registrando o quinto mês seguido de recuo. Entre os produtos com maiores reduções estão arroz, feijão, frutas e carnes. A valorização do real frente ao dólar, que atingiu o menor patamar em 17 meses, também contribuiu para conter os preços de produtos importados e de bens duráveis, como eletrodomésticos e móveis.
A conta de luz foi outro fator de alívio, com queda média de 2,39% no mês. A redução foi resultado da troca da bandeira tarifária vermelha 2 pela vermelha 1, que implica cobrança extra menor sobre a tarifa de energia.
Revisão de projeções e expectativas do mercado
Com o resultado de outubro, várias instituições financeiras revisaram para baixo suas projeções de inflação para o fim do ano. O economista sênior do Banco Inter, André Valério, afirmou que agora vê o IPCA em torno de 4,4%, ante previsão anterior de 4,6%.
Segundo ele, o corte de preços da gasolina nas refinarias e as promoções da Black Friday podem manter a inflação de novembro em níveis baixos, entre 0,18% e 0,19%. Já para dezembro, Valério prevê uma leve pressão dos alimentos e serviços devido às festas de fim de ano, com alta entre 0,30% e 0,40%.
Perspectiva de corte na Selic em 2025
A possibilidade de inflação dentro da meta animou o mercado. “A confiança de que o Banco Central possa iniciar cortes na Selic já em janeiro aumentou após o IPCA de outubro”, avaliou Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo. Segundo ele, a ata mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que a atual taxa de juros tem sido suficiente para esfriar a economia e conter a inflação.
Apesar disso, há cautela entre analistas. Igor Barenboim, economista-chefe da Reach Capital, destacou: "O número de outubro ajuda, mas não é definitivo. Tem que olhar para frente. Não acho que a inflação deste ano ser 4,5% ou 4,6% vai definir o que o Copom vai fazer. Estar dentro da meta aumenta o conforto, mas não é para isso que o BC está olhando. Se o mundo continuar benigno, e as coisas ajudarem, tem chance de corte em janeiro, mas ainda acredito que março é o mais provável".
Alívio político para Galípolo
A desaceleração do IPCA também tem efeito político: se o índice fechar o ano abaixo de 4,5%, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, não precisará enviar nova carta ao Ministério da Fazenda explicando o descumprimento da meta. Ele já teve de fazê-lo duas vezes em 2025, após o índice superar o limite por mais de seis meses consecutivos.
Com o resultado de outubro, Galípolo ganha fôlego e reforça a narrativa de que a política monetária começa a surtir efeito.


