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Haddad expõe ao mercado as complexidades de um ajuste fiscal no Brasil

Ministro da Fazenda critica seletividade da Faria Lima e lembra operação da PF que pressionou Congresso a agir

Ministro Fernando Haddad (Foto: Jorge Silva/Reuters)

247 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aproveitou sua participação na abertura do BTG Macro Day, nesta segunda-feira (23), para destacar os desafios da condução da política fiscal no Brasil. Entrevistado pelo economista-chefe do banco e ex-secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, Haddad rebateu críticas recorrentes de que os governos petistas não priorizam a agenda fiscal. A reportagem é do jornal Valor Econômico.

Segundo o ministro, muitas propostas que poderiam melhorar as contas públicas são rejeitadas não por seu conteúdo, mas por virem de um governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Muitas medidas são criticadas simplesmente por partirem do atual governo e que seriam bem recebidas em outras gestões”, afirmou.

Críticas à visão simplista de cortes

Haddad ironizou o discurso de parte do mercado financeiro que sugere congelamentos prolongados de salários como solução fiscal. “Aí, chega o cara da asset lá e fala: ‘se o salário mínimo ficar mais 12 anos congelado e o do funcionalismo mais 30, vai resolver’. Vai lá e senta, assume o cargo”, disparou.

Para ele, o ajuste fiscal não pode se restringir a propostas radicais e tecnocráticas, sem considerar o contexto político e social. “Precisamos ter maturidade, é bonito fazer a construção política, tem que chegar para os caras e conversar”, disse, em referência à necessidade de diálogo com o Congresso Nacional.

Operação Carbono Oculto como divisor de águas

O ministro citou a operação Carbono Oculto, deflagrada pela Polícia Federal e pela Receita Federal em agosto, como exemplo de como a pressão institucional pode destravar pautas paradas. A investigação atingiu a gestora Reag e outras empresas, expondo fraudes e práticas ilícitas.

Você não consegue votar o devedor contumaz há oito anos. Precisou da operação da Reag para a turma tomar um susto e votar o devedor contumaz”, criticou.

Ele também mencionou irregularidades no setor de combustíveis que, segundo ele, são conhecidas por todos, mas continuam sem enfrentamento legislativo. “Faz quantos anos que nós estamos dizendo que está cheio de picareta fazendo barbeiragem com combustível? Todo mundo sabe, a polícia sabe, a Receita sabe. Aí você fala: ‘vota, em vez de onerar a sociedade com combustível ruim e caro’.”

A disputa de narrativas

As falas de Haddad deixam evidente o atrito entre a Faria Lima e o governo federal. O ministro acusa o mercado de seletividade e de defender soluções que ignoram as complexidades sociais e políticas de um ajuste fiscal no Brasil. Para ele, sem diálogo e sem a construção de consensos institucionais, o país não conseguirá avançar em reformas estruturais que tragam equilíbrio às contas públicas sem sacrificar direitos sociais.

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