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      Brasil em alerta: governo negocia para evitar tarifaço de Trump em alimentos e Embraer

      Com prazo apertado, Brasília busca proteger exportações estratégicas e prepara plano de contingência para impactos de sobretaxa americana

      Presidente Luiz Inácio Lula da Silva segura miniatura de avião Embraer E195-E2 durante cerimônia na Base Aérea de Brasília 08/10/2024 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – A poucos dias da aplicação de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelos Estados Unidos, o governo Lula (PT) está em intensas negociações para excluir itens essenciais do "tarifaço" imposto por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos e empossado para seu segundo mandato em 2025. Conforme informações da Folha de S.Paulo, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, tem dialogado diretamente com Howard Lutnick, secretário de Comércio dos EUA, em uma tentativa de proteger, principalmente, o setor de alimentos.

      O Brasil é um gigante global na produção e exportação de suco de laranja, destinando 95% de sua produção ao exterior, com 42% desse volume seguindo para os Estados Unidos. O país também se destaca como o principal fornecedor de café para o mercado norte-americano, tendo exportado 2,87 milhões de sacas para os EUA entre janeiro e maio de 2025, o que representa 17,1% de todo o volume exportado pelo Brasil, de acordo com dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Além dos produtos agrícolas, o governo brasileiro busca a exclusão das aeronaves fabricadas pela Embraer, cuja aviação regional nos Estados Unidos é um de seus mercados mais importantes. Um dos argumentos para a isenção é o fato de a Embraer importar peças dos EUA, o que criaria um impacto mútuo na cadeia produtiva.

      Negociações prioritárias e plano de contingência

      Diante da falta de uma resposta concreta dos Estados Unidos, o governo brasileiro segue avaliando cenários e mantém em sigilo a divulgação de seu plano de contingência até que a sobretaxa seja efetivada. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que o plano geral para proteger as empresas exportadoras foi finalizado pela equipe técnica na semana passada e agora aguarda a aprovação do presidente Lula.

      Nesta segunda-feira, 28 de julho, Haddad se reuniu com o presidente Lula e o vice-presidente Alckmin no Palácio do Planalto. Após o encontro, Haddad afirmou ter apresentado a Lula "todas as possibilidades que estão à disposição do Brasil e dele à frente da Presidência da República". O ministro, no entanto, enfatizou que o "foco do Brasil é negociar".

      Haddad explicou que o vice-presidente Alckmin está em contato e "à disposição permanentemente" das autoridades americanas, reforçando a postura diplomática brasileira: "Tem havido conversas. Então, aquilo que foi dito semana passada, [semana] retrasada, de que o Brasil não vai deixar a mesa de negociação em nenhum momento, está valendo e vai continuar valendo." O ministro da Fazenda deixou claro que Lula não tomará uma decisão antes de conhecer o ato executivo dos EUA com o detalhamento das medidas sobre o comércio com o Brasil. Questionado se o presidente já havia decidido qual seria a reação, Haddad respondeu: "Não sabemos nem a decisão que vai ser tomada. Possivelmente, a gente espera que não seja unilateral no dia 1º. Então, nós vamos insistir de que a medida não seja unilateral por parte dos Estados Unidos".

      Conforme revelado pela Folha, entre as medidas de contingência estudadas, cogita-se a criação de um fundo privado temporário para facilitar a concessão de crédito a empresas ou setores afetados. O governo também avalia incluir ações de preservação de empregos, inspiradas no programa emergencial de manutenção de trabalho e renda criado durante a pandemia.

      Em conversa com jornalistas, Alckmin elogiou a elaboração do plano de contingência, mas reiterou que a prioridade é o avanço das negociações. "O plano de contingência é um plano que está sendo elaborado, bastante completo, bem feito, mas todo o empenho agora nessa semana é para a gente buscar resolver o problema. Quero dizer a vocês que nós estamos dialogando neste momento pelos canais institucionais e sob reserva", afirmou. Questionado sobre uma possível ligação direta entre os presidentes Lula e Trump, Alckmin disse não ter tratado do assunto com o chefe do Executivo. "Eu não conversei com o presidente Lula sobre isso, mas o presidente Lula é o homem do diálogo. Ele sempre defendeu o diálogo, que é o que nós fazemos permanentemente", disse.

      Dificuldade nas tratativas e soberania inegociável

      No último domingo, 27 de julho, o presidente Trump confirmou a aplicação de sobretaxas, que no caso do Brasil foram definidas em 50%, a partir de 1º de agosto. Se confirmada, essa tarifa será uma das maiores do mundo. Para o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que integra uma comitiva de oito senadores em Washington em busca de sensibilizar empresários e autoridades americanas, será difícil conseguir adiar esse prazo.

      Alckmin tem sido o principal articulador do Brasil nas tratativas com o governo americano desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em abril. Em conversa com o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, em 19 de julho, o vice-presidente reforçou a disposição do governo brasileiro em sentar-se à mesa para negociar.

      A dificuldade de avanço nas tratativas com os americanos foi destacada por Lula em evento em São Paulo na semana passada. Segundo o chefe do Executivo, Alckmin tenta diariamente negociar com os Estados Unidos, mas sem sucesso: "Todo dia ele liga para alguém e ninguém quer conversar com ele".

      Nesta semana, o chanceler Mauro Vieira viajou aos Estados Unidos para uma conferência da ONU em Nova York. No entanto, até o momento, não houve sinalizações positivas para um encontro com membros do governo Trump. Caso não haja perspectiva de uma reunião, o ministro não deve viajar a Washington.

      Auxiliares do presidente Lula ressaltam que não haverá concessão na parte política ligada ao tarifaço, o que inclui a questão jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou qualquer outra decisão do Judiciário. Em nota, o governo brasileiro reforçou que a soberania do Brasil é inegociável nas conversas sobre as tarifas impostas pelos americanos.

      Em um encontro com representantes do setor privado, o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, afirmou que o governo americano tem interesse nos materiais críticos em solo brasileiro. Em resposta, Lula rebateu publicamente que as reservas nacionais de minerais críticos do país "pertencem ao povo brasileiro". Internamente, Alckmin tem se reunido com representantes da indústria, do agronegócio e de outros segmentos para discutir os impactos da sobretaxa na economia brasileira.

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