Na COP, Lula deve propor pacto global por biocombustíveis
Objetivo do presidente é angariar apoio para quadruplicar a produção de combustíveis sustentáveis até 2035
247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende propor, nesta sexta-feira (7), um pacto entre mais de cem líderes mundiais reunidos na Cúpula do Clima, em Belém, para quadruplicar a produção global de combustíveis sustentáveis até 2035. A iniciativa, voltada principalmente para biocombustíveis, é aguardada com entusiasmo pela indústria brasileira de bioenergia, que vê na proposta uma oportunidade estratégica para consolidar o país como referência em transição energética.
De acordo com a Folha de S.Paulo, o anúncio deve ocorrer durante a sessão da cúpula dedicada à transição energética, marcada para as 11h. O governo brasileiro pretende destacar que, embora a eletrificação seja um caminho essencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, há setores que ainda dependerão de combustíveis por décadas — entre eles, a aviação, o transporte marítimo, a indústria pesada e o transporte rodoviário de longa distância.
Impacto no agronegócio e na indústria automobilística
O tema tem relevância especial para a economia brasileira. A indústria automobilística aposta que o compromisso internacional pode estimular o uso de veículos movidos a biocombustíveis em escala global, abrindo novos mercados. Já o agronegócio vê na proposta uma oportunidade de ampliar as exportações de etanol e biodiesel, fortalecendo a cadeia de energia limpa e agregando valor à produção agrícola nacional.
Apoio em relatório da Agência Internacional de Energia
O pedido de Lula se apoia em um relatório divulgado em outubro pela Agência Internacional de Energia (AIE). O documento aponta que, se todas as políticas anunciadas para combustíveis sustentáveis forem efetivamente implementadas, a produção global poderá quadruplicar até 2035 em relação aos níveis de 2024. A agência ressalta, contudo, que esse avanço depende da eliminação de barreiras de mercado e da criação de metas adaptadas à realidade de cada país, com base em tecnologias locais.
A AIE também destaca a necessidade de aumentar a previsibilidade da demanda, de forma a gerar confiança entre investidores e empresas do setor. Outro ponto central é o desenvolvimento de metodologias transparentes e confiáveis para contabilizar as emissões de carbono — um tema sensível para o Brasil, que há anos defende, em fóruns internacionais, o reconhecimento da baixa pegada de carbono dos biocombustíveis produzidos no país.
Adesão internacional e desafios diplomáticos
A proposta brasileira deve ser apresentada como um compromisso aberto, permitindo que cada país adira de forma gradual, conforme suas capacidades e estratégias energéticas. Segundo a Folha, ao menos 12 países já sinalizaram adesão, entre eles Itália e Japão, ambos reconhecidos pelo apoio à expansão dos biocombustíveis.
Ainda assim, a iniciativa enfrenta resistências. A União Europeia, fortemente influenciada pelas políticas ambientais da Alemanha, tende a manter distância da proposta, principalmente por causa de sua oposição ao uso de biocombustíveis derivados de cultivos comestíveis, como palma, soja, milho e cana-de-açúcar.
A expectativa do governo brasileiro é de que o apelo de Lula sirva como marco de uma nova etapa da cooperação internacional pela descarbonização, equilibrando os esforços entre eletrificação, inovação tecnológica e combustíveis de origem sustentável — pilares considerados essenciais para enfrentar a crise climática global.


