Ministros discutem legado da COP30 e papel do Brasil na transição energética
Fórum Esfera reuniu ministros, gestores públicos e líderes empresariais em debates que antecipam discussões da COP30
247 - O futuro da Amazônia e o papel estratégico do Brasil na transição energética global foram temas centrais do Fórum Esfera Internacional, realizado no Theatro da Paz, em Belém (PA), na sexta-feira (10). O encontro reuniu ministros, gestores públicos e líderes empresariais em debates que antecipam discussões da COP30, prevista para novembro, também na capital paraense.
A conferência reforçou a imagem do Brasil como protagonista da agenda ambiental internacional, discutindo desde o legado da cúpula climática para a Amazônia até os impactos da inteligência artificial sobre a sustentabilidade. O evento contou com a participação de ministros do governo federal, do governador do Pará, Helder Barbalho, do prefeito de Belém, Igor Normando, além de executivos de grandes companhias e representantes da sociedade civil.
Amazônia no centro da pauta
Helder Barbalho destacou a importância de Belém como sede da COP30, sublinhando a singularidade da cidade por estar “na atmosfera da floresta, na atmosfera amazônica”. O governador defendeu transformar a biodiversidade em vetor econômico sustentável, citando projetos como o Parque de Bioeconomia da Amazônia e a criação de um “vale de biotecnologia” local. “Que nós possamos, em vez de usar chips, usar as nossas essências, as nossas plantas, a riqueza da floresta”, afirmou.
O prefeito Igor Normando também ressaltou os impactos de longo prazo do evento: “É o início de uma nova era para nossa economia e para o povo amazônico.”
Segurança pública e combate ao crime
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, defendeu um modelo global de combate ao crime organizado, que classificou como um “fenômeno transnacional”, comparável a desafios como o aquecimento global. Ele ressaltou três eixos de ação: integração internacional, fortalecimento federativo e uso intensivo de tecnologia.
Na mesma linha, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, informou que a COP30 já mobiliza um esquema de segurança integrado, inspirado em experiências do G20 e das Olimpíadas. Rodrigues também destacou a queda de 63% nos alertas de queimadas na Amazônia em relação a 2024 e citou o programa Ouro Alvo, que rastreia o ouro extraído da região.
Infraestrutura, turismo e saneamento
Radamés Casseb, CEO da Aegea Saneamento, afirmou que investimentos em saneamento são um dos legados mais significativos da conferência, destacando que a empresa já atende 30% da população local com tarifa social. “Nada é mais importante para o ecossistema do que o saneamento. Ainda há 100 milhões de brasileiros sem esgoto tratado e 40 milhões sem água potável contínua”, alertou.
No campo do turismo, o ministro Celso Sabino anunciou a meta de 10 milhões de turistas estrangeiros até o fim de 2025, antecipando em três anos a previsão original. “O Brasil nunca ultrapassou 6,8 milhões em um ano. Já chegamos a 7 milhões e devemos superar 10 milhões até dezembro, um marco histórico.”
Transição energética e inteligência artificial
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ressaltou que o Brasil reúne vantagens competitivas para atrair investimentos em data centers conectados a matrizes renováveis. Ele anunciou o primeiro leilão exclusivo de baterias de armazenamento de energia elétrica do país, previsto para 2026, com capacidade de 2 GW.
Já a executiva da Visa, Vanessa Antunes Rodrigues, alertou para o desafio do aumento no consumo energético provocado pela expansão da inteligência artificial. “A economia digital precisa ser também uma economia sustentável. Inovar é encontrar formas de gerar valor para pessoas e para o planeta, de forma duradoura”, afirmou.
O ministro da CGU, Vinícius de Carvalho, destacou ainda o uso da IA para prevenir fraudes em licitações. Segundo ele, o software Alice já permitiu economia de R$ 1,25 bilhão em um ano. “O crime organizado tenta assinar contratos com o poder público, e isso passa por corrupção. Precisamos de instrumentos tecnológicos para antecipar e bloquear essas práticas.”
Inclusão social e vozes periféricas
O cofundador da Cufa, Preto Zezé, cobrou a presença das populações de favelas e periferias nos grandes debates globais sobre clima. “É difícil discutir saídas sem a presença de quem vive o problema na mesa. O planeta é um só. A crise ambiental vai atingir o campo de golfe e o barraco”, disse.
Ao final do encontro, João Camargo, presidente do Conselho da Esfera Brasil, sintetizou o espírito do evento: “Quem quiser falar de preservação precisa vir aqui, ver de perto, sentir a floresta e entender o que é viver na Amazônia.”