Sonia Guajajara destaca protagonismo indígena e pede respostas globais à crise climática na Pré-COP em Brasília
Ministra defende o Círculo dos Povos como inovação da presidência da COP30 e reforça quatro legados esperados para a conferência de Belém
247 - A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, participou nesta segunda-feira (13) da abertura da Pré-COP — Reunião Ministerial Preparatória para a COP30 — que reúne líderes globais em Brasília. O evento, que antecede a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP30), contou com a presença de ministros, negociadores e representantes de cerca de 65 delegações internacionais. As informações são da assessoria da COP30 Brasil.
Durante a cerimônia, ao lado dos líderes dos Círculos vinculados à Presidência da COP30, Guajajara fez um discurso contundente sobre a urgência climática e o papel dos povos originários na busca por soluções. Ela destacou o Círculo dos Povos como um avanço inédito na estrutura da conferência, capaz de fortalecer o diálogo direto entre povos indígenas, comunidades tradicionais e afrodescendentes com a presidência brasileira do evento.
Em sua fala, a ministra alertou para o esgotamento do multilateralismo e a necessidade de reconstruir consensos globais em torno da crise ambiental. “Não será possível qualquer transição energética se ela reproduzir o que outros processos já fizeram: em nome do suposto progresso e do avanço tecnológico, deixar rastros de violações, violências e desigualdades”, afirmou. Guajajara ressaltou ainda que os povos indígenas e comunidades locais “não são somente aqueles dentre os mais impactados pelas mudanças climáticas. Nós também somos parte das respostas”.
O evento, realizado no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), ocorre nos dias 13 e 14 de outubro e busca facilitar consensos políticos antes da conferência principal, que será sediada em Belém, entre 10 e 21 de novembro.
O Círculo dos Povos e o fortalecimento das vozes tradicionais
Presidido por Sonia Guajajara, o Círculo dos Povos foi criado para garantir maior representatividade dos povos indígenas, comunidades tradicionais e afrodescendentes junto à Presidência da COP30. Ele é composto pela Comissão Internacional Indígena e pela Comissão Internacional de Comunidades Tradicionais, Afrodescendentes e Agricultura Familiar, que atuam no fortalecimento da participação dessas populações nos debates internacionais sobre o clima.
“O Círculo cria formas de diálogo, de contextualizar sobre os preparativos para Belém e de ouvir e encaminhar as principais demandas”, explicou a ministra. Ela lembrou que, desde a criação da Plataforma de Povos Indígenas e Comunidades Locais na COP de Paris, a UNFCCC busca ampliar a presença desses grupos nos processos de decisão climática.
Segundo Guajajara, o Círculo dos Povos atuará de forma autônoma, sem substituir as instâncias já existentes dentro da estrutura da ONU, como o Grupo de Trabalho Facilitador (FWG) da Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas (LCIPP) e o Caucus Indígena.
Quatro legados esperados para a COP30
Durante seu discurso, a ministra apresentou quatro legados que o Brasil espera consolidar na COP de Belém, reforçando a importância de compromissos concretos para restaurar a confiança global nas ações climáticas:
- Financiamento climático: superar o dado de que apenas 1% dos recursos chegam a territórios indígenas e comunidades locais, apesar de serem os que mais preservam a natureza;
- Reconhecimento dos territórios: incluir os territórios indígenas e tradicionais nas resoluções formais da COP, reconhecendo-os como sumidouros de carbono e essenciais às políticas de mitigação;
- Conhecimento tradicional: incorporar saberes e práticas ancestrais nos indicadores de adaptação climática;
- Defensores ambientais: reconhecer a importância dos defensores da terra e adotar princípios como o consentimento livre, prévio e informado, além de combater o racismo ambiental nos debates sobre transição justa.
Guajajara destacou que “é preciso que a COP30 deixe legados concretos que reforcem a confiança entre as sociedades”, enfrentando o negacionismo e o ceticismo climático que ainda persistem em diferentes regiões do mundo.
A maior participação indígena da história das COPs
A ministra também anunciou que a COP30 terá a maior participação indígena já registrada nas conferências do clima. O Ministério dos Povos Indígenas criou, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), um espaço chamado Aldeia COP, que servirá como alojamento e centro cultural, político e espiritual durante o evento.
São esperados 3 mil indígenas de todo o Brasil e do mundo, além de 360 representantes credenciados na Zona Azul da conferência, indicados pelo movimento indígena por meio do Ciclo COParente — um conjunto de 15 encontros regionais realizados em todos os biomas do país para preparar as lideranças e unificar o posicionamento indígena na COP.