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“É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, diz Lula

Na abertura da COP30, presidente denuncia avanço da desinformação e reforça necessidade de ação conjunta contra a crise climática

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

247 - Na abertura oficial da COP30, realizada nesta segunda-feira (10) em Belém, no Pará, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o evento deixará um legado duradouro para a cidade e para o mundo. “Quando vocês deixarem Belém, o povo da cidade permanecerá com os investimentos de infraestrutura que foram feitos aqui para receber vocês. E o mundo poderá em si dizer que conhece a realidade da Amazônia”, declarou.

O presidente destacou que a conferência ocorre em um momento decisivo para o planeta, diante da escalada dos desastres climáticos e do aumento das desigualdades. Lula lembrou que, antes da COP30, a Cúpula de Belém reuniu líderes internacionais para adotar compromissos concretos e lançar o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, que captou US$ 5,5 bilhões em um único dia.

O presidente enumerou avanços alcançados na reunião prévia: “Adotamos compromissos coletivos sobre o manejo integrado do fogo, o direito à posse da terra por povos indígenas e tradicionais, a quadruplicação da produção de combustíveis sustentáveis, a criação de uma coalizão sobre mercado de carbono e o alinhamento da ação climática ao combate à fome e à pobreza. E mais, é a luta contra o racismo ambiental.”

Lula destacou que o Brasil tem buscado liderar a transição ecológica global por meio de sua atuação no G20 e nos BRICS. “A cúpula de Belém foi o ponto de chegada de um caminho que o Brasil convidou a comunidade internacional a percorrer ao longo de suas presidências no G20 e nos BRICS”, disse. O documento final, batizado de Ação de Belém, servirá de base para os debates na COP30 e em futuras conferências climáticas.

Ao tratar dos impactos atuais da crise climática, o presidente citou catástrofes recentes. “O furacão Melissa que castigou o Caribe e o tornado que atingiu o estado do Paraná no sul do Brasil deixaram vítimas fatais e um rastro de destruições”, afirmou. “Das secas e incêndios na África e na Europa, às enchentes na América do Sul e no Sudeste Asiático, o aumento da temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações mais vulneráveis. A COP30 será a COP da verdade.”

Lula criticou o avanço da desinformação e do negacionismo climático. “Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio, espalham o medo, atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas.”

O presidente defendeu que o Acordo de Paris foi essencial para conter um aquecimento global catastrófico, mas alertou que o ritmo das ações ainda é insuficiente. “Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado ao aquecimento catastrófico de quase 5 graus até o fim do século. Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada”, declarou. “No ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a 1,5 grau na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr.”

Durante o discurso, Lula apresentou uma proposta de reorganização da governança internacional sobre o tema climático. “Avançar requer uma governança global mais robusta, capaz de assegurar que as palavras se traduzam em ações. A proposta de criação de um Conselho do Clima, vinculado à Assembleia Geral da ONU, é uma forma de dar a esse desafio a estatura política que ele merece.”

O presidente também fez um apelo humanitário. “O aquecimento global pode empurrar milhões de pessoas para a fome e a pobreza, fazendo retroceder décadas de avanço. O impacto desproporcional da mudança do clima sobre mulheres, afrodescendentes, migrantes e grupos vulneráveis deve ser levado em conta nas políticas de adaptação.”

Lula reforçou o papel dos povos indígenas na preservação ambiental. “No Brasil, 13% do território são áreas demarcadas para os povos indígenas. Talvez ainda seja pouco. Uma transição justa precisa contribuir para reduzir as assimetrias entre o norte e o sul global, forjada sobre séculos de emissões. A emergência climática é uma crise de desigualdade.”

Encerrando sua fala, o presidente apelou à esperança e à mobilização coletiva. “Mudar pela escolha nos dá chance de um futuro que não é ditado pela tragédia. O desalento não pode extinguir a esperança da juventude. Devemos aos nossos filhos, aos nossos netos, a oportunidade de viver em uma terra onde seja possível sonhar”, afirmou.

Em tom simbólico, concluiu com uma citação ao líder Yanomami Davi Kopenawa: “O xamã Yanomami, Davi Kopenawa, diz que o pensamento na cidade é obscuro e fumaçado, obstruído pelo ronco dos carros e pelo ruído das máquinas. Eu espero que a serenidade da floresta inspire em todos nós a clareza de pensamento necessário para ver o que precisa ser feito.”

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