Moraes detona “nota esdrúxula” de Paulo Sérgio sobre urnas em 2022
Então ministro da Defesa seguiu ordem de Bolsonaro para manter acesa a “chama do discurso das fraudes nas eleições”
247 - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou como “uma das mais esdrúxulas” a nota divulgada em novembro de 2022 pelo então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, a respeito da lisura das urnas eletrônicas.
Segundo Moraes, a nota de Paulo Sérgio, divulgada no dia 10 de novembro de 2022, atendeu diretamente a uma ordem de Jair Bolsonaro. O objetivo, afirmou, era sustentar o discurso infundado de fraude nas urnas, usado pelo grupo bolsonarista para tentar deslegitimar o resultado do pleito e impedir a posse do presidente e do vice eleitos.
Em sua manifestação, Moraes detalhou como a derrota de Bolsonaro nas urnas desencadeou um movimento coordenado para contestar o processo democrático. Entre 30 de outubro e 9 de novembro de 2022, relatou, grupos organizados financiaram e incentivaram bloqueios de rodovias pelo país, articulados em grande parte por meio das redes sociais.
O ministro destacou que, em 31 de outubro, a Polícia Rodoviária Federal (PRF), sob o comando de Anderson Torres no Ministério da Justiça, ignorou as obstruções, o que reforçou o avanço da ação golpista. “Foi necessária uma decisão dada por mim determinando que imediatamente as polícias militares retirassem aqueles que estavam obstruindo”, recordou Moraes, ressaltando que bloqueios de estradas ferem o direito de ir e vir e comprometem o abastecimento de remédios e alimentos.
A nota do Ministério da Defesa
O ponto central da crítica do magistrado foi o posicionamento oficial do Ministério da Defesa, publicado em 10 de novembro de 2022, um dia após a entrega do relatório técnico das Forças Armadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O documento militar reconhecia a ausência de irregularidades no sistema eletrônico de votação, mas a nota assinada por Paulo Sérgio insinuava a possibilidade de fraudes.
“Uma das mais esdrúxulas notas, vergonhosas notas, que um ministro da Defesa do Brasil pode ter emitido”, afirmou Moraes. Ele citou trechos em que o ministério dizia que o relatório “embora não tenha apontado, também não exclui a possibilidade de existência de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas ou no processo eleitoral de 2022”. Para Moraes, esse gesto buscou alimentar a narrativa de Bolsonaro de que as eleições estariam sob suspeita.
“O relatório é claro, mas, por determinação do líder da organização criminosa, para manter não só a obstrução que já começava a ser retirada, mas os acampamentos ilegais na frente dos quartéis do Exército, precisava manter o discurso de que houve fraude”, declarou o ministro do STF.
Conduta considerada criminosa
Moraes encerrou sua fala reforçando a gravidade da atitude de Paulo Sérgio, que à época comandava a Defesa. “Vergonhosa a conduta. Seria só vergonhosa se não fosse criminosa”, disse o magistrado, sublinhando que a nota teve papel estratégico no prolongamento dos atos antidemocráticos e no fortalecimento de discursos que ameaçaram a transição de governo e a democracia no Brasil.