Malafaia orientou Bolsonaro a usar sanções de Trump para pressionar STF por anistia
Áudio revela pastor sugerindo ao ex-presidente discurso sobre tarifas dos EUA como estratégia política
247 - Um áudio incluído em relatório da Polícia Federal (PF) expõe uma conversa entre o pastor Silas Malafaia e o ex-presidente Jair Bolsonaro. A gravação, obtida a partir da apreensão do celular de Bolsonaro, faz parte do material que embasa o indiciamento do ex-presidente e de seu filho, e mostra Malafaia sugerindo uma linha de discurso para pressionar pela anistia dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
Segundo o relatório da PF, a conversa ocorreu em julho, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar tarifas contra produtos brasileiros sob alegação de risco à democracia. Naquele momento, Bolsonaro também estava proibido por medidas cautelares de fazer ataques a instituições.
Sugestão de discurso contra sanções
No diálogo, Malafaia orienta Bolsonaro a se posicionar de forma indireta contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), relacionando as tarifas impostas por Trump a uma suposta questão de liberdade e justiça, e não de economia.
“Você não vai xingar STF, você não vai esculhambar Alexandre de Moraes, mas você pode se colocar sim (e deve): ‘Olha gente, a questão da tarifa do Donald Trump não tem a ver com a economia, tem a ver com liberdade, de Justiça. Eu não quero ver retaliações sobre ministros do STF e suas famílias. Eu não quero ver isso! É só resolver a questão da anistia que isso acaba!’”, orientou o pastor.
Malafaia ainda acrescentou que essa postura faria Bolsonaro parecer bem intencionado: “Tu vai ficar bonito, dando uma de bacana ainda. Nós não queremos ver Donald Trump com sanções sobre ministros e suas famílias”.
Estratégia para coagir o Judiciário
O documento da PF aponta que Malafaia atuava como conselheiro em estratégias de narrativa política, inclusive na formulação de discursos com informações falsas e voltados a coagir a cúpula do Judiciário.
Na sequência da conversa, Malafaia insistiu para que Bolsonaro adotasse uma postura de estadista: “Você como estadista tem que dizer: ‘eu não quero ver tirar de Lula. A questão não é econômica, a questão é a liberdade, de justiça contra essas pessoas presas, essa injustiça contra mim, esse golpe que não existiu’. Esse é seu discurso, presidente!”.