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José Dirceu defende prisão domiciliar para Bolsonaro

"O estado de saúde dele está se agravando, eu não vejo como ele pode entrar nesse sistema”, disse o ex-ministro

José Dirceu defende prisão domiciliar para Bolsonaro (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

247 - Em entrevista à BBC News Brasil, concedida à jornalista Marina Rossi, o ex-ministro José Dirceu se posicionou a favor de que Jair Bolsonaro (PL) ,condenado a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, cumpra prisão domiciliar em vez de regime fechado. Em entrevista à BBC News Brasil,  Dirceu afirmou que o ex-mandatário “não tem condições de ir para o sistema penitenciário”.

“Acho muito improvável que se possa colocar presos vulneráveis no sistema penitenciário, que é controlado pelo crime organizado. As condições são péssimas. E como o estado de saúde dele está se agravando, eu não vejo como ele pode entrar nesse sistema”, disse. “Me parece que ele é uma pessoa psicossomática, que vai acelerando, muito instável. Não é uma pessoa que tem autocontrole”, completou.

Segundo Dirceu, seria justo que Bolsonaro permanecesse em prisão domiciliar, como o ex-presidente Fernando Collor de Mello. “Você não pode colocar um ex-presidente da República no sistema penitenciário”, afirmou.

Eleições 2026

Na entrevista, o ex-ministro afirmou que pretende concorrer novamente a deputado federal por São Paulo em 2026, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dirceu afirma que sua candidatura representa um gesto de “justiça” e “reparação” após as prisões injustas nos casos do mensalão e da Operação Lava Jato.

“Vou pedir votos como uma reparação”, afirmou. O ex-ministro voltou neste ano à direção nacional do PT e planeja lançar o segundo volume de suas memórias, que deve abordar o período de 2005 a 2015 e relatar bastidores de sua cassação e da resistência à ditadura militar.

Pedido de Lula

Mesmo reconhecendo que, aos 80 anos, não representa a renovação geracional, Dirceu diz que sua candidatura é simbólica. “Sou candidato porque o presidente pediu e porque acredito que é por justiça, é uma reparação que vou pedir ao povo de São Paulo”, declarou.

O ex-ministro afirma que mantém apoio popular além do eleitorado tradicional do PT. “As pesquisas indicam que eu tenho um público muito além do PT. Só a eleição vai dizer se eu vou ter voto para além do partido, mas acredito que sim.”

Relação com Lula

Ainda conforme Dirceu, o contato entre ele e o presidente Lula é raro, mas a sintonia permanece. “Temos uma relação de quase 40 anos... conversamos, vamos dizer assim, por telepatia”, afirmou. Ele nega que o presidente esteja isolado politicamente e defende a aliança do governo com partidos de centro. “Quem fez a aliança foi o eleitor. É um governo de centro-esquerda, mas a base parlamentar é de centro-direita e de direita”, argumentou.

O ex-ministro também elogiou a atuação do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) a quem considera fundamental para a estabilidade do governo e para a eleição de 2026. “A chapa ideal é Lula e Geraldo Alckmin. Ele representa setores importantes da sociedade brasileira”, disse.

“Rebelião silenciosa” e novos trabalhadores

Ao comentar as transformações no mercado de trabalho, Dirceu observou o que chamou de uma “rebelião silenciosa” entre os jovens, que buscam novas formas de relação profissional.

“Há uma rebelião silenciosa da juventude exigindo mudança nas relações e nos horários de trabalho”, afirmou. “Não é por causa do Bolsa Família que está faltando mão de obra, é por causa da qualificação e das condições de trabalho e do salário.”

Ele defendeu a necessidade de uma reforma tributária profunda e criticou o sistema que, segundo ele, perpetua a concentração de renda. “O principal problema de o Brasil não crescer é a concentração de renda. Um por cento do país tem a mesma renda que 150 milhões de pessoas”, disse.

 Relações internacionais e Donald Trump

Ao falar sobre o cenário global, Dirceu criticou a postura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e afirmou que o Brasil tem condições de manter uma posição autônoma nas relações bilaterais.

“Não há nada nas relações entre Brasil e Estados Unidos que justifique o que os EUA fizeram com o Brasil”, disse. Para ele, Trump “já deixou claro que é uma questão política e não econômica”, disse em referência às sanções impostas pelo governo Trump ao Brasil  e a autoridades brasileiras com o objetivo de interferir no julgamento de Jair Bolsonaro. 

Dirceu avalia que a associação de Bolsonaro à figura de Trump é eleitoralmente danosa. “Bolsonaro não ganhará. Colado na política e nos interesses norte-americanos, ninguém vence eleição no Brasil. Historicamente, nunca aconteceu isso.”

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