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Itamaraty monitora novas sanções de Trump 'sem ansiedade': 'Brasil fez a coisa certa'

Diplomacia afirma que Brasil mantém canais institucionais apesar das ameaças dos EUA

Mauro Vieira (mais destaque) e Donald Trump (Foto: Divulgação)

247 - O Itamaraty tem acompanhado com atenção as declarações recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após a condenação de Jair Bolsonaro (PL) no âmbito da ação penal sobre uma tentativa de golpe de Estado. A chancelaria brasileira não demonstra ansiedade diante da possibilidade de novas sanções por parte de Washington. "Não é motivo de ansiedade. O Brasil fez a coisa certa. Vamos ter que lidar com o que vier", disse um embaixador brasileiro que atua nas negociações junto ao governo estadunidense à coluna de Amanda Klein, no UOL.

Declarações de Trump elevam tensão diplomática

Na quinta-feira (11), Trump afirmou ter assistido ao julgamento de Bolsonaro, ressaltou que conhece pessoalmente o ex-presidente e declarou surpresa com a condenação. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, foi ainda mais direto ao afirmar que os EUA responderão “na mesma medida dessa caça às bruxas”. Em nota, o Itamaraty destacou que “as instituições democráticas deram sua resposta ao golpismo”.

Itamaraty compara 6 de janeiro e 8 de janeiro

Internamente, diplomatas avaliam que as comparações entre a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e os ataques golpistas em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, são feitas de forma simplista. Um embaixador ouvido pela reportagem afirmou que “o Brasil tem um histórico de intervenções militares. Nosso problema é mais profundo. A Constituição de 1988 criou a vacina: Justiça forte e independente e limites ao Poder Executivo. Não há registro que Trump tenha conversado com militares ou orquestrado um golpe, embora o 6 de janeiro também tenha sido muito grave”.

Ainda de acordo com a reportagem, a visão diplomática é de que os dois episódios — embora graves — possuem contextos distintos. Enquanto nos EUA o episódio foi pontual, no Brasil, a memória de rupturas militares ainda é mais presente. Essa leitura reforça a posição de que a Constituição de 1988 blindou o país contra retrocessos institucionais, ao fortalecer o Judiciário e estabelecer limites claros ao Executivo.

Canais de diálogo com Washington seguem travados

Os contatos de alto nível continuam congelados. O ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, não voltou a dialogar com Marco Rubio. Da mesma forma, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não avançou em conversas com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, para reverter o tarifaço de 50% imposto às exportações brasileiras.

Quanto a uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para Trump, diplomatas avaliam que um telefonema improvisado poderia expor o Brasil a um constrangimento semelhante ao vivido pelo líder ucraniano Volodymyr Zelensky. Um embaixador revelou que, logo após a vitória eleitoral de Trump, Lula chegou a solicitar uma chamada telefônica, mas a data coincidiu com a Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, quando o petista recebia chefes de Estado, inclusive o então presidente Joe Biden. Desde então, não houve nova tentativa de reagendamento.

Apesar da tensão política, o Itamaraty entende que nem todos os temas precisam ser tratados diretamente no nível presidencial. Questões como a deportação de brasileiros nos primeiros meses do governo Trump e o pacote tarifário contra exportações do Brasil foram tratados em nível ministerial. Na ocasião, atuaram em conjunto Fernando Haddad, Mauro Vieira e o vice-presidente Geraldo Alckmin, responsável pela pasta do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

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