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      Governo brasileiro reage com cautela a declaração de Trump de que está aberto ao diálogo sobre tarifaço

      Declaração do presidente dos EUA foi vista com ceticismo por integrantes do governo Lula, que cobram interlocução diplomática antes de eventual conversa.

      Lula e Donald Trump (Foto: ABR | Reuters)
      Paulo Emilio avatar
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      247 - A afirmação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que está disposto a conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as tarifas impostas a produtos brasileiros gerou reações de desconfiança entre autoridades do governo brasileiro. Segundo a Folha de S.Paulo, membros do núcleo político do Palácio do Planalto, um dirigente do PT e um diplomata do Itamaraty consideram que qualquer diálogo desse nível exige uma preparação prévia por meio dos canais diplomáticos tradicionais.

      Apesar do ceticismo, interlocutores do governo não descartam por completo a possibilidade de uma ligação telefônica entre os dois chefes de Estado para tratar das tarifas. Essa alternativa é vista como mais segura e controlada, reduzindo riscos de constrangimentos públicos ou atritos maiores entre os países.

      A declaração de Trump, feita na sexta-feira (1º) nos jardins da Casa Branca, mudou o tom da pressão exercida por empresários brasileiros sobre o governo Lula. Até então, o presidente vinha resistindo a se envolver diretamente nas negociações, alegando que "o governo Trump não quer conversa". Com o gesto de abertura do norte-americano, setores empresariais passaram a enxergar um canal viável para o diálogo — e, ao mesmo tempo, aumentaram a cobrança por uma resposta mais direta de Lula.

      "Ele [Lula] pode falar comigo quando quiser", disse Trump a jornalistas, complementando com uma mensagem ambígua: "as pessoas que lideram o Brasil fizeram coisa errada". A fala foi interpretada como uma crítica velada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que tem conduzido investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e foi recentemente alvo de sanções do governo americano.

      Poucas horas após a fala de Trump, Lula respondeu por meio da rede social X (antigo Twitter), sem mencionar o nome do presidente estadunidense. "Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições. Neste momento, estamos trabalhando para proteger a nossa economia, as empresas e nossos trabalhadores, e dar as respostas às medidas tarifárias do governo norte-americano", escreveu o presidente brasileiro.

      Ainda de acordo com a reportagem, a publicação foi lida por auxiliares como um recado claro de que Lula não pretende negociar qualquer tema que envolva decisões do STF, reafirmando a soberania institucional do Brasil diante da interferência externa.

      Fontes do governo lembram que Trump tem um histórico de desrespeito a outros chefes de Estado e temem que Lula seja alvo de situações similares. Em fevereiro, o presidente americano discutiu publicamente com o ucraniano Volodymyr Zelensky, cobrando agradecimentos por armas enviadas pelos EUA. Em maio, acusou o governo sul-africano de promover um suposto "genocídio branco", sem apresentar qualquer prova, durante reunião com o presidente Cyril Ramaphosa.

      Esse padrão de comportamento reforça, entre os auxiliares de Lula, a percepção de que um encontro direto com Trump, sobretudo diante das câmeras, poderia expor o presidente brasileiro a constrangimentos. Por isso, ainda que a possibilidade de um telefonema exista, o governo trabalha para que esse contato ocorra apenas após sólida preparação diplomática.

      Apesar das tensões, diplomatas apontam uma leve distensão nas relações bilaterais. No mesmo dia da declaração de Trump, o chanceler brasileiro Mauro Vieira reuniu-se com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para tratar do tarifaço. Também há expectativa de um encontro entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent.

      As sobretaxas impostas por Trump — de até 50% sobre produtos brasileiros — foram anunciadas no início de julho e ligadas diretamente às investigações contra Bolsonaro. A medida foi classificada dentro do governo brasileiro como uma intervenção indevida na política interna nacional. O pacote tarifário americano atinge diversos países, incluindo aliados históricos como Canadá, México, Coreia do Sul e União Europeia. No entanto, o Brasil foi o país mais afetado.

      Nos bastidores, as tratativas com os EUA vêm sendo conduzidas principalmente por Haddad e pelo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin. Algumas exceções já foram anunciadas pelo governo norte-americano, excluindo determinados produtos da taxação, mas ainda não há sinal de recuo mais amplo.

      O ministro Fernando Haddad, ao comentar a fala de Trump, afirmou: "achei ótima a declaração. A recíproca eu tenho certeza de que é verdadeira. O presidente Lula estaria disposto a receber um telefonema dele quando ele quisesse também". A declaração foi vista como uma tentativa de manter o canal de comunicação aberto, sem ceder em relação às condições colocadas pelo Brasil.

      Haddad também reiterou que uma conversa entre os presidentes exige preparação, mencionando que o Brasil vive uma "situação fora da curva" no cenário internacional, causada por "razões políticas".

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