Gleisi critica escolha de Derrite para relatar PL Antifacção e diz que texto “blinda o crime organizado”
Ministra das Relações Institucionais acusa Guilherme Derrite de agir politicamente e retirar a autonomia da Polícia Federal
247 - A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, criticou duramente a escolha do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do projeto de lei antifacção. Em entrevista à GloboNews, divulgada nesta segunda-feira (10), Gleisi afirmou que a indicação está “contaminada com a questão política” e representa uma tentativa de enfraquecer a atuação do governo federal no combate ao crime organizado.
Segundo a ministra, a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), de nomear Derrite — atual secretário de Segurança Pública de São Paulo e aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) — foi uma escolha “de caráter político” que desrespeita o Executivo. “Eu conversei com o presidente Hugo Motta na sexta-feira. Disse a ele que isso não seria positivo, que não seria bom. Soaria inclusive com desrespeito ao governo, ao próprio presidente, porque era um projeto do governo”, relatou.
Gleisi afirmou que o governo não exigia um relator alinhado, mas alguém com perfil técnico. “Não pedimos um aliado próximo, mas uma pessoa mais neutra, que pudesse fazer a discussão sem estar contaminada”, disse. A ministra rebateu o argumento de Motta de que a escolha recaiu sobre “o secretário de segurança pública do maior estado do país”. “Eu discordo dele. Ele indicou o secretário de segurança de um governador que é declaradamente oposição ao presidente, que pretende disputar a eleição, e já com uma visão política muito determinada sobre o tema”, pontuou.
Relatório “apressado” e politizado
O parecer de Derrite foi entregue em apenas 24 horas, o que, para o governo, reforça o caráter político da relatoria. Gleisi afirmou que o texto contém “problemas muito sérios” e “duas grandes decisões políticas”: a equiparação das facções criminosas ao terrorismo e a limitação da atuação da Polícia Federal.
A ministra questionou a decisão de Derrite de propor alterações na Lei Antiterrorismo, em vez de trabalhar sobre o projeto de combate às facções encaminhado pelo governo. “Se não era para fazer equivalência [com terrorismo], por que não aumentar a pena no projeto que o governo mandou? Nós não somos contra aumentar a pena”, argumentou.
“Matadora”: restrição à Polícia Federal
A crítica mais contundente de Gleisi recai sobre o trecho do relatório que impõe restrições à atuação da Polícia Federal. A proposta determina que a PF só poderá investigar organizações criminosas se for “provocada” pelo governador do estado. “Essa pra mim é matadora: é tirar a Polícia Federal da investigação de organizações criminosas”, declarou.
Ela citou a Operação Carbono Oculto como exemplo dos danos que essa limitação poderia causar. “Pelo relatório do deputado Derrite, se fosse lei já, a Polícia Federal teria que ter pedido autorização para o governador de São Paulo”, explicou. Gleisi lembrou que a operação, que tem ramificações no Rio de Janeiro e investiga a refinaria de Manguinhos, foi alvo de questionamentos do governador fluminense Cláudio Castro (PL). “Então imagina, você acha que o governador Cláudio de Castro daria autorização ou pediria à Polícia Federal para fazer investigação?”, questionou.
Para a ministra, a proposta representa uma “loucura” que “vai blindar o crime organizado”, ao afastar do combate à criminalidade a instituição com maior capacidade técnica e autonomia. “A Polícia Federal é quem tem a expertise de mirar o dono do dinheiro e pegar os chefões”, concluiu.


