Documentos do Coaf não ampliam frentes de investigação da CPMI do INSS
Primeira leva de relatórios do Coaf limita avanço da CPI do INSS, conforme análise de parlamentares e técnicos
247 - A chegada à CPMI do INSS dos primeiros documentos sigilosos enviados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre movimentações financeiras de investigados em suposto esquema de descontos ilegais a aposentados e pensionistas não correspondeu às expectativas iniciais da comissão parlamentar. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, integrantes da CPI aguardavam que os relatórios pudessem revelar novas frentes de investigação e atrair maior atenção para os trabalhos do colegiado.
Movimentações suspeitas, mas sem novas frentes
Conforme a análise preliminar dos técnicos, os documentos indicam movimentações bilionárias e algumas classificadas como suspeitas, mas ainda não permitiram identificar novas linhas de apuração além das já investigadas pela Polícia Federal (PF). “A primeira leva da documentação não avança de forma relevante em relação a apontamentos, personagens e transferências financeiras já indicadas pela Polícia Federal em inquéritos próprios”, afirmam parlamentares ouvidos pela comissão, de acordo com a reportagem.
Parlamentares continuam ouvindo investigados
O impacto da documentação é considerado limitado, e a CPMI Mista, formada por deputados e senadores, continua a colher depoimentos de pessoas já citadas nos inquéritos da PF. Entre elas, estão empresários e representantes de entidades suspeitas de participar de esquemas de descontos ilegais.
“E essa CPI com certeza vai chegar a termo porque em breve chegarão todos os demais sigilos que ainda não chegaram, e nós chegaremos também, com certeza, àqueles que roubaram o dinheiro dos aposentados”, afirmou o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) durante a 10ª reunião da comissão, realizada em 22 de setembro.
Cautela com os relatórios do Coaf
Especialistas da CPMI alertam que os relatórios do Coaf devem ser interpretados com cautela, pois dependem das informações bancárias consideradas “movimentações atípicas ou suspeitas”. Transações de menor valor, mas relevantes, podem não ser identificadas. Entre os exemplos citados nos relatórios, há até compras de três cofrinhos da Tiffany, no valor de R$ 1,8 mil cada. “Eu sempre falei isso. Ou a CPMI vê se tem a ligação política ou ela vai ficar refazendo o trabalho da PF”, disse o deputado Rogério Correia (PT-MG).
Análise detalhada ainda em andamento
O presidente da CPI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), e o relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), ressaltam que a análise da documentação ainda está em andamento. “É um volume muito grande [de informações]. Eu vou precisar ainda reunir com minha equipe amanhã. Cheguei em Brasília hoje”, afirmou Gaspar no início da tarde de segunda-feira, 6.
Segundo Viana, a comissão pretende organizar os trabalhos de acordo com a relevância dos convocados. “Temos possibilidade relevante de ampliar os trabalhos. Fiz as contas hoje e temos 135 nomes convocados. Vamos ter que pegar os que têm relevância, conforme a cobra sigilo, e começar a trazer. Os principais estão sendo chamados, e depois vamos para os acessórios”, comentou o senador.
Depoimentos recentes e próximos
Na segunda-feira (6), a CPMI ouviu o empresário Fernando Cavalcanti, ex-sócio do advogado Nelson Wilians, alvo de busca e apreensão por suspeita de envolvimento em lavagem de dinheiro proveniente de desvios do INSS. Cavalcanti negou qualquer relação com o esquema e detalhou doações feitas a terceiros, como a doação de um Fusca de colecionador ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
“Nunca fui laranja, operador ou beneficiário de qualquer esquema. Minha atuação sempre foi de gestor, e os pagamentos por mim recebidos eram compatíveis com todas as funções que eu desempenhava com a minha vida empresarial”, declarou.
Para a próxima quinta-feira (9), estão previstos novos depoimentos, incluindo o de Milton Baptista de Souza, conhecido como Milton Cavalo, ex-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), e de representantes da Amar Brasil. Ambas as entidades são investigadas por suposta participação em esquema de descontos associativos ilegais a aposentados.