Ciro Nogueira sugere que Bolsonaro escolha candidato com chances reais de vitória
Senador do PP afirma que ex-presidente não pode arriscar derrota e aponta Tarcísio de Freitas como alternativa contra Lula
247 – O senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do Progressistas, declarou em entrevista ao jornal Valor Econômico que Jair Bolsonaro, hoje inelegível e às vésperas de novo julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), precisa agir com pragmatismo político. Para ele, o ex-presidente não tem espaço para arriscar em 2026.
“O único que não pode perder a eleição do ano que vem é Jair Bolsonaro, por causa da situação dele. Ele tem que escolher alguém que possa ganhar”, afirmou.
Nogueira foi o primeiro político a visitar Bolsonaro após a decretação da prisão domiciliar em 4 de agosto. O parlamentar é frequentemente citado como possível vice em uma chapa presidencial encabeçada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), embora afirme que ainda não exista definição: “Vice é uma decisão que só deve ser tomada depois da escolha do candidato, levando em conta conveniências políticas e eleitorais”.
Tarcísio como favorito e a estratégia de Lula
Na avaliação do senador, Tarcísio desponta como o nome mais competitivo contra Lula, a ponto de o próprio presidente, segundo ele, cogitar não disputar a reeleição caso o governador paulista confirme a candidatura. Nogueira avalia que as constantes menções de Lula à sua saúde poderiam servir como justificativa para essa saída.
Ciro, no entanto, vê na postura do presidente uma estratégia para desgastar adversários: “Ele quer colocar holofotes sobre Tarcísio e sobre mim para nos queimar, porque sabe da reação que a precipitação sobre a questão de nome provoca na oposição. Fixar o Tarcísio como candidato agora leva setores da direita a bater em Tarcísio”.
Crise interna no bolsonarismo e tensões externas
A consolidação de Tarcísio como presidenciável também tem provocado tensões dentro do clã Bolsonaro. A Polícia Federal revelou mensagens em que o deputado Eduardo Bolsonaro discutia com o pai para tentar barrar a candidatura do governador.
Para Ciro, Eduardo caiu em “uma armadilha de Lula”: “Não concordo com posições dele, mas as compreendo”.
Outro ponto que influencia o cenário é a crescente rejeição a Bolsonaro, que, segundo Nogueira, se intensificou após o conflito diplomático com os Estados Unidos. Em julho, o presidente americano Donald Trump anunciou sanções contra o Brasil, alegando interferência no julgamento do ex-presidente. Enquanto Lula adotou discurso nacionalista, Bolsonaro e seus filhos chegaram a defender as sanções.
Relação do PP com o governo e acusações
O Progressistas, partido de Nogueira, ocupa o Ministério do Esporte, com André Fufuca (MA), e mantém influência sobre a Caixa Econômica Federal. No entanto, a federação com o União Brasil e as pressões internas aumentam a chance de desembarque do governo. “Já está passando do momento da gente tomar uma decisão. Na próxima semana vou começar a debater isso no partido”, disse.
A relação com o Planalto também ficou mais tensa após denúncias que associaram o senador ao esquema criminoso do PCC. Reportagem do portal ICL mencionou suposta entrega de dinheiro vivo a Nogueira em 2024. O senador nega veementemente e enviou ofício ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, pedindo investigação.
Anistia e julgamento de Bolsonaro
Ciro prevê que Bolsonaro será condenado no julgamento da trama golpista, que começa nesta terça-feira (2), e considera inevitável a retomada do debate sobre a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Ele defende que a medida inclua explicitamente o ex-presidente, embora outros líderes do Centrão trabalhem por um texto mais restrito.
Para o senador, a fala recente do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, abre espaço político: “Foi uma sinalização importante para uma distensão”. Ainda assim, a proposta não deve tramitar no Senado antes de uma eventual sentença contra Bolsonaro.
Perspectivas para 2026
Ao projetar o cenário eleitoral, Ciro Nogueira reitera que Bolsonaro não pode insistir em um caminho pessoal diante das condenações e da inelegibilidade. Para ele, a sobrevivência política da direita dependerá da escolha de um candidato viável, capaz de unir forças conservadoras e disputar em pé de igualdade com Lula.
“Bolsonaro sabe que não pode perder. A definição de quem será o candidato é vital para a oposição”, concluiu o senador.