Celso Amorim afirma que EUA violam Carta da ONU ao ameaçar Brasil com "poderio militar"
Porta-voz da Casa Branca disse que Trump “não tem medo” de recorrer ao uso da força em nome da liberdade de expressão
247 - O ex-chanceler Celso Amorim expressou preocupação com a recente declaração de Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, sobre o uso do poder militar pelos Estados Unidos em nome da liberdade de expressão. Nesta terça-feira (9), ao ser questionada sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Leavitt disse que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "não tem medo" de recorrer ao uso da força.
"Posso te dizer que esta é uma prioridade para nossa administração e que o presidente não está com medo de usar o poderio econômico e militar dos EUA para proteger a liberdade de expressão no mundo", respondeu Leavitt.
Em depoimento com a coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, Amorim disse que a diferença entre uma "bravata" e uma "ameaça" é muitas vezes sutil, referindo-se ao tom da fala de Leavitt. Amorim, que é o principal assessor de assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi questionado sobre o teor da declaração e se considerava a fala uma “bravata” ou uma “ameaça”, e respondeu: "Para bom entendedor...".
Amorim também disse não acreditar que os Estados Unidos cometeriam a "loucura" de atacar militarmente o Brasil em função do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Apesar disso, Amorim não deixou de destacar que a simples ameaça do uso da força, como foi feita pela representante da Casa Branca, viola princípios fundamentais do Direito Internacional. Ele reafirmou que, ainda que de forma retórica, a declaração contradiz os fundamentos da Carta das Nações Unidas. "A mera ameaça do uso da força — ainda que retórica — é contrária aos princípios básicos do Direito Internacional e à Carta da ONU", enfatizou o ex-chanceler.