Brasil não pode servir de 'quintal de ninguém', diz Haddad
Ministro da Fazenda critica medidas de Donald Trump e destaca que o país não aceitará papel subordinado em relações internacionais
247 - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou neste sábado (23) que o Brasil não aceitará ser tratado como “quintal” de nenhuma potência estrangeira diante da escalada tarifária imposta pelos Estados Unidos. A declaração foi feita durante evento do PT, informa o g1.
O tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já impacta pequenas empresas brasileiras que tinham planos de exportação. No governo brasileiro, a medida é vista mais como um gesto político do que econômico, já que Trump justificou as barreiras comerciais no contexto do processo contra seu aliado Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF).
Defesa da soberania e ampliação de parcerias
Haddad ressaltou que a estratégia do país é manter diálogo com diversas nações e blocos, sem subordinação a um único parceiro. “Estamos com esse desafio geopolítico. O Brasil não pode servir de quintal para ninguém”, afirmou o ministro. “Temos tamanho, densidade e importância para garantir nossa soberania. Não podemos escolher um parceiro só, temos que ser parceiros de todo mundo: União Europeia, Ásia, Brics, Oriente Médio, Sudeste Asiático.”
Ele destacou ainda a necessidade de fortalecer laços com a Índia, que possui a maior população do planeta, mas mantém uma relação comercial ainda restrita com o Brasil. Ao mesmo tempo, Haddad frisou que a parceria com os Estados Unidos deve continuar, mas com equilíbrio.
“Jamais passou pela nossa cabeça abrir mão da parceria com os EUA. Mas não nas condições que estão sendo colocadas”, disse. “Sempre mantivemos nossa postura altiva e soberana no trato dos assuntos comuns a dois povos que têm uma história de 200 anos. Não há motivo para isso mudar, até porque o governo Trump é temporário, e Brasil e EUA são permanentes.”
Alckmin: tarifaço é “injustificado”
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) também criticou a decisão da Casa Branca, argumentando que os Estados Unidos já desfrutam de vantagens na relação comercial bilateral.
“Uma palavrinha sobre a questão do tarifaço. Ele é, primeiro, injustificado. Se a gente for ver a relação comercial Brasil-Estados Unidos, dos 10 produtos que eles mais exportam para o Brasil, 8 não pagam imposto. É zero. A média tarifária é de 2,7%, ela é baixíssima. E eles têm superávit na balança comercial, tanto de bens, quanto de serviços”, afirmou.
Segundo Alckmin, o Brasil seguirá negociando para reduzir os encargos impostos por Washington. “O que que o presidente Lula orientou, primeiro, negociação. Não vamos desistir de baixar essa alíquota e tirar mais produtos”, acrescentou.
Risco estratégico nos dados digitais
Haddad também chamou a atenção para a dependência do Brasil em tecnologia. Ele informou que 60% dos dados digitais brasileiros são atualmente processados fora do país, o que considera um risco estratégico. “Nós temos que tomar providências para que eles sejam processados aqui e de preferência com empresas brasileiras também”, defendeu.O ministro explicou que a Fazenda trabalha em um projeto para transformar o Brasil em polo internacional de data centers e inteligência artificial, incentivando a indústria nacional nesse setor.
Perspectivas de crescimento econômico
Em relação à economia, Haddad avaliou que o Brasil tem condições de crescer em média 3% ao ano sem pressões inflacionárias, desde que mantenha investimentos em setores estratégicos como infraestrutura, educação, indústria e agricultura.
Ele reconheceu, porém, que o Produto Interno Bruto (PIB) deve registrar avanço menor em 2025 em comparação a 2024. Segundo o ministro, a desaceleração foi planejada como forma de conter a inflação. “Tivemos uma turbulência no primeiro semestre, a agenda acabou atrasando um pouco. Mas vejo no Congresso, em lideranças como Hugo Motta e Davi Alcolumbre, o desejo de fazer uma bela entrega em termos de Estado para a sociedade brasileira”, concluiu.
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