Bolsonaristas exploram Fux para isolar Moraes, mas ignoram revelações de Mauro Cid
Aliados de Bolsonaro divulgam fala de Fux para sustentar narrativa contra acusação de tentativa de golpe
247 - Em mais uma tentativa de blindar Jair Bolsonaro diante das graves acusações que enfrenta por envolvimento na tentativa de golpe de Estado, seus filhos e aliados passaram a explorar declarações do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), como forma de confrontar o relator do caso, Alexandre de Moraes, relata o jornal O Globo.
A estratégia dos bolsonaristas veio à tona após a primeira audiência de instrução da ação penal, realizada na Primeira Turma do STF. Fux, único integrante do colegiado além do relator Moraes a comparecer à sessão, fez um questionamento ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid sobre a assinatura de Bolsonaro em uma minuta golpista. O tenente-coronel respondeu que o ex-presidente não havia assinado o documento, embora houvesse receio do então comandante do Exército de que isso ocorresse sem consulta prévia, pois ele era contra a medida.
Imediatamente, o trecho da fala de Fux foi extraído e viralizado por perfis bolsonaristas, incluindo os filhos de Bolsonaro — o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) — como forma de sugerir uma divergência interna na Corte. Parlamentares alinhados ao ex-presidente também se engajaram na disseminação do conteúdo, alimentando a tese de que Fux estaria disposto a se contrapor a Moraes.
Apesar da tentativa de criar antagonismo entre os dois ministros, a sessão demonstrou o contrário: ambos agiram com respeito mútuo. Alexandre de Moraes, inclusive, agradeceu publicamente a presença de Fux durante a audiência. Além disso, o ponto central do julgamento não é a assinatura ou não da minuta golpista, mas sim a organização e tentativa de execução de um golpe de Estado — independentemente de sua consumação.
Ao mesmo tempo, a base bolsonarista preferiu silenciar diante de outra declaração de Mauro Cid, feita também na segunda-feira (9), muito mais comprometedora para o ex-presidente. Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro chegou a editar uma minuta golpista enquanto ainda estava no cargo, retirando dela trechos que previam a prisão de autoridades do Judiciário e do Legislativo — mantendo apenas o nome de Alexandre de Moraes entre os alvos.
A tentativa de capturar politicamente Fux não é nova. O ministro já havia se tornado uma espécie de esperança para bolsonaristas após seu voto por uma pena branda à mulher que pichou a estátua da Justiça no dia 8 de janeiro e por questionar aspectos da delação de Mauro Cid. Desde então, passou a ser visto como potencial voz dissonante da Primeira Turma do STF.
Na prática, porém, Fux não confirmou essa expectativa na primeira audiência com os réus. Embora tenha feito perguntas durante os depoimentos, não demonstrou qualquer ruptura com a linha conduzida por Moraes, frustrando os setores que tentam dividir o Supremo em meio ao julgamento de um dos episódios mais graves da história democrática recente do país.
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