Banco Central monitora impacto de tarifaço de Trump, mas vê mercados estáveis
Medida dos EUA ainda não afetou fluxo cambial nem gerou pedidos de crédito emergencial por parte de bancos e exportadores
247 - Diante da ameaça de um novo “tarifaço” promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Banco Central (BC) brasileiro intensificou o monitoramento dos mercados, mas, até o momento, não identificou necessidade de intervenção. Segundo informações apuradas pelo jornal Valor Econômico, os fluxos cambiais seguem dentro da normalidade, sem indicações de desequilíbrio ou pressões incomuns sobre o dólar.
Cenário distinto de 2008
Nos últimos dias, analistas financeiros sugeriram que a nova ofensiva tarifária dos Estados Unidos poderia comprometer o mercado de Antecipação de Contrato de Câmbio (ACC), instrumento utilizado por exportadores para antecipar recebíveis em moeda estrangeira. Esse temor ecoa memórias da crise de 2008, quando a quebra do Lehman Brothers paralisou linhas de crédito internacionais e levou o BC a oferecer empréstimos em dólar aos bancos brasileiros para garantir o financiamento das exportações.
Contudo, a conjuntura atual é considerada substancialmente diferente. O BC não recebeu solicitações de linhas especiais de financiamento nem de instituições financeiras nem de exportadores, tampouco foram relatadas dificuldades de acesso a crédito. As mesas de câmbio consultadas pelo Valor apontam para uma oferta confortável de dólares, sustentada pelo fluxo contínuo de exportações.
Riscos pontuais, sem efeito sistêmico
Embora os efeitos diretos do tarifaço ainda não tenham se concretizado, há um alerta potencial sobre empresas que firmaram ACCs com base em expectativas de exportações futuras. Caso essas vendas para os EUA sejam adiadas ou canceladas por conta das tarifas, algumas companhias poderiam enfrentar dificuldades para quitar os compromissos no prazo contratado.
Nesse cenário, eventuais soluções não passariam por uma atuação cambial emergencial do BC, mas sim por medidas regulatórias que permitam a renegociação de prazos dos ACCs ou, em casos mais duradouros, por linhas de crédito direcionadas a setores específicos — providência que poderia envolver também o Ministério da Fazenda.
Impactos futuros e postura do BC
Ainda que não haja urgência imediata, o BC reconhece que a aplicação de tarifas punitivas tende a reduzir as exportações brasileiras para os Estados Unidos, com consequências de médio e longo prazo para o fluxo comercial e para o investimento estrangeiro direto. Um estudo recente do Banco de Compensações Internacionais (BIS) reforça essa tese, ao apontar o declínio nos investimentos em países afetados por medidas protecionistas semelhantes.
No entanto, o BC mantém sua política de câmbio flutuante como primeira linha de defesa. “A atuação da autoridade monetária não se altera: o mercado é observado continuamente, e só haverá intervenção caso o funcionamento do sistema seja comprometido”, afirmou uma fonte próxima à autoridade monetária ao Valor.
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