Ladislau Dowbor: "o tarifaço do Trump é uma oportunidade para o Brasil"
Economista vê nas barreiras comerciais impostas pelos EUA chance de reindustrialização e fortalecimento do mercado interno brasileiro
247 - Durante entrevista ao programa Boa Noite 247, o economista e professor Ladislau Dowbor avaliou as recentes medidas protecionistas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como uma janela de oportunidade estratégica para o Brasil. A análise de Dowbor parte do anúncio de um novo tarifaço sobre produtos estrangeiros, incluindo o aço brasileiro, medida que integra a política de “reindustrialização via tarifas” adotada pelo governo norte-americano desde o retorno de Trump à presidência em 2025.
Para Dowbor, embora o impacto inicial seja sentido negativamente por exportadores brasileiros, o movimento pode impulsionar transformações estruturais na economia nacional. “Na medida em que os americanos encarecem os produtos brasileiros, isso abre espaço para que a gente redirecione nossa produção para o mercado interno e regional. Isso é uma oportunidade para o Brasil”, afirmou.
Crítica à dependência do mercado externo
O economista fez uma avaliação crítica da política externa brasileira baseada em exportações de commodities e da excessiva dependência da demanda internacional. “O Brasil não pode continuar como fornecedor de produtos primários para o mundo rico. Isso nos aprisiona num modelo de baixa agregação de valor e poucos empregos”, disse Dowbor.
Ele ressaltou que as tarifas norte-americanas sobre produtos industrializados devem provocar uma reconfiguração das cadeias de valor globais. Nesse contexto, países como o Brasil podem reposicionar-se economicamente. “Essas barreiras acabam sendo um estímulo para repensar o modelo. Em vez de tentar competir com preços baixos, podemos aproveitar para construir cadeias produtivas internas e integrar melhor o mercado latino-americano.”
Aposta no fortalecimento da indústria nacional
Segundo Dowbor, o novo cenário exige resposta rápida do governo brasileiro, especialmente em termos de planejamento industrial. Ele defendeu uma atuação coordenada do Estado, que envolva financiamento público, inovação tecnológica e fortalecimento das pequenas e médias empresas. “Não adianta só resistir às tarifas. É preciso transformar isso em vetor de desenvolvimento interno, com políticas industriais de médio e longo prazo.”
Ele citou ainda a importância de uma reforma tributária voltada à progressividade, que permita ao Estado ter capacidade de investimento em áreas estratégicas da economia real. “O Estado tem que induzir a reindustrialização com inteligência e com justiça social. Isso é possível e é urgente.”
Diplomacia e cautela
Ladislau Dowbor também comentou sobre a necessidade de uma diplomacia prudente diante do estilo errático do presidente norte-americano. “O Trump funciona como um DJ. Ele sobe e desce o volume conforme os interesses internos dele. A negociação precisa ser feita com diplomacia e sem submissão.”
A avaliação do economista é que o Brasil não deve adotar uma postura defensiva ou de alinhamento automático. Ao contrário, deve usar o momento para construir alternativas soberanas e sustentáveis. “O tarifaço do Trump é uma ameaça para quem está preso à dependência. Para quem quer crescer com autonomia, pode ser uma virada de jogo”, concluiu. Assista:
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: