Alvo dos outros réus da trama golpista, Mauro Cid deverá ser "espremido" e atacado pelas defesas
Delator, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro se preparou nos últimos dias para o interrogatório e pretende dar respostas objetivas para escapar da pressão
247 - O início dos interrogatórios no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tentativa de golpe de Estado bolsonarista em 2022 concentra atenções no tenente-coronel Mauro Cid. Cid será o primeiro a prestar depoimento presencialmente, nesta segunda-feira (9), e a expectativa entre os aliados de Jair Bolsonaro (PL), segundo Tainá Falcão, da CNN Brasil, é de que ele seja “espremido” entre as perguntas dos ministros da Corte e as pressões da defesa de outros acusados.
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, é considerado uma peça central nas investigações. Sua delação premiada, homologada em setembro de 2023 pelo ministro Alexandre de Moraes, é vista como um dos pilares da acusação. Porém, Cid já alterou suas versões ao menos cinco vezes, o que, segundo advogados de outros réus, enfraquece sua credibilidade e pode beneficiar os demais envolvidos — inclusive Bolsonaro e seu vice na chapa de 2022, o general Walter Braga Netto.
Delação sob ataque - A estratégia das defesas é clara: minar a validade do acordo de colaboração premiada de Cid. A menção a Braga Netto em suposta reunião para gerar um “caos social” e o vazamento de áudios em que Cid alega ter sido pressionado pela Polícia Federal são elementos centrais dessa ofensiva jurídica. O tenente-coronel também é acusado de “mentir” por advogados de outros réus — adjetivo que deverá voltar a ser repetido nos interrogatórios desta semana.
Nos bastidores, o objetivo é anular judicialmente a delação, tida como base da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A defesa de Bolsonaro e de Braga Netto já tentou derrubar o acordo anteriormente e vê nessa nova rodada de depoimentos a chance de fortalecer os questionamentos. Cid, por sua vez, deverá tentar manter objetividade e consistência, segundo Jussara Soares, também da CNN Brasil, após passar dias revisando os depoimentos de 52 testemunhas e detalhes da acusação.
Sequência de depoimentos e pressão política - Após Cid, a ordem dos interrogatórios seguirá em ordem alfabética: Alexandre Ramagem (deputado federal e ex-diretor da Abin); Almir Garnier (ex-comandante da Marinha); Anderson Torres (ex-ministro da Justiça); Augusto Heleno (ex-ministro do GSI); Jair Bolsonaro; Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa); e Walter Braga Netto. A exceção será o próprio Braga Netto, que está preso em unidade militar no Rio de Janeiro e será ouvido por videoconferência.
Os depoimentos ocorrerão até sexta-feira (13), conforme cronograma estabelecido pela Primeira Turma do STF. Bolsonaro, que passou o fim de semana reunido com advogados e aliados no Palácio dos Bandeirantes, residência oficial do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), acompanha de perto os desdobramentos e as movimentações de sua defesa.
Acordo de Cid: idas, vindas e crises - O acordo de colaboração de Cid foi assinado enquanto ele estava preso por envolvimento na fraude dos cartões de vacina de Bolsonaro. Ao deixar a prisão, o militar passou a enfrentar sucessivos desafios à manutenção de seu status de delator. Em março de 2024, áudios vazados nos quais criticava Alexandre de Moraes e a PF quase lhe custaram os benefícios. Convocado a explicar o episódio, foi preso novamente e chegou a desmaiar durante a audiência.
Em decisão posterior, Moraes manteve a delação, classificando os áudios como “mero desabafo” e destacando que Cid reafirmou a “voluntariedade e legalidade do acordo”. Em novembro, novos esclarecimentos foram exigidos devido a contradições identificadas pela PF. O acordo seguiu válido, sobretudo após o militar implicar diretamente Braga Netto.
Preso desde dezembro, o general é uma das principais figuras ligadas ao chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe. A estratégia de defesa agora mira em desqualificar quem o acusou — e o primeiro a ser colocado sob pressão será justamente Mauro Cid.
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