Aço Verde celebra tarifa reduzida sobre ferro-gusa, mas alerta para riscos nas relações Brasil-EUA
Executivos apontam dependência da indústria americana do insumo brasileiro, mas temem impacto de tensões diplomáticas
247 - O setor de ferro-gusa brasileiro recebeu com alívio a decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar tarifa de apenas 10% sobre as importações do insumo, em contraste com os 50% definidos para outros minerais.
A informação foi publicada pelo jornal Valor Econômico nesta quarta-feira (27). A medida, que reduz o risco de paralisação de plantas, trouxe fôlego às exportações brasileiras, mas a Aço Verde Brasil alerta que o cenário ainda é de cautela diante da possibilidade de revisão da alíquota.
Em participação no congresso Aço Brasil, em São Paulo, a presidente da Aço Verde Brasil, Silvia Nascimento, destacou que a indústria americana depende do fornecimento nacional, o que pesou na decisão de Washington. “Ficamos fora das tarifas mais altas em função da dependência das usinas americanas do ferro-gusa brasileiro. Eles [os clientes] foram junto ao governo e pediram a isenção. Quem tem que defender o importador é o cliente americano, porque ele tem poder perante o governo de pedir a isenção para não prejudicar a cadeia de produção. Ficou muito clara a importância e a dependência que as usinas americanas têm do gusa brasileiro”, afirmou.
Dependência estratégica e pressão dos clientes
A Aço Verde exporta anualmente cerca de 240 mil toneladas de ferro-gusa, sendo 140 mil destinadas aos Estados Unidos e 100 mil para a Europa. Entre os principais compradores estão gigantes da siderurgia norte-americana como Nucor, NorkStar, Steel Dynamics e Big River. Segundo Nascimento, está consolidado no setor que o custo da tarifa de 10% recai sobre os clientes americanos, que até agora aceitaram absorver o impacto.
Apesar do alívio imediato, a executiva alertou que um eventual desgaste nas relações entre Brasil e Estados Unidos pode desencadear pressões por renegociação contratual. “Hoje, supostamente, não existe risco, mas vai que o relacionamento Brasil-Estados Unidos deteriore mais? Na minha opinião, teríamos um revés, os clientes vão querer sentar conosco para renegociar”, disse.
Desafios econômicos e baixa remuneração
Outro ponto sensível é o preço internacional. Atualmente, o ferro-gusa é negociado a US$ 400 por tonelada (FOB), valor considerado insuficiente para remunerar adequadamente os custos de produção. “Essa média não justifica a operação”, avaliou a presidente da Aço Verde. A empresa opera com contratos indexados à fórmula da Fast Market e embarques a cada dois meses pelo porto do Espírito Santo.
Produção de aço em ritmo reduzido
No setor siderúrgico, a Aço Verde enfrenta os mesmos desafios da indústria nacional, marcada pela ociosidade. A companhia possui capacidade instalada de 600 mil toneladas por ano, mas deve encerrar 2025 com cerca de 480 mil toneladas produzidas. “Tomamos a decisão de não aumentar a produção porque não há demanda. O pouco crescimento que existe está sendo todo atendido por importados”, declarou Nascimento.
Com foco no mercado interno, a produção da Aço Verde é destinada majoritariamente à construção civil (70%), enquanto os outros 30% atendem à indústria.